fonte: O Globo

Internado no Hospital da Mulher, em São João de Meriti, desde o seu nascimento no dia 23 de outubro, Pedro Carolino morreu na madrugada deste domingo, às 4h, após sofrer uma parada cardíaca. O bebê aguardava por uma vaga em um hospital com UTI pediátrica. O sepultamento foi realizado no cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, em meio a um clima de tristeza e indignação.

— Hoje, foi a primeira vez que pudemos colocar uma roupinha no nosso filho. Ele estava na UTI pediátrica do Instituto Nacional de Cardiologia, onde deveria ficar para se recuperar da cirurgia que fez, e foi enviado novamente para o Hospital da Mulher que só tem UTI neonatal e não oferece as condições necessárias e adequadas para um bebê de quase 90 dias. Sinto que a nossa vida acabou, o Pedro estava incluído em todos os nossos planos. Não sabemos como vai ser daqui para a frente e como vamos sobreviver. Somos mais uma vítima do caos da saúde do Rio — lamentava o pai Sérgio Carolino.

Pedro Carolino nasceu com uma cardiopatia congênita que foi descoberta três dias após o parto no Hospital da Mulher. Por ter uma interrupção no arco da artéria aorta, o pequeno necessitava passar por uma cirurgia que foi realizada no dia 12 de novembro, no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), após uma liminar que determinava que Pedro tinha que ser transferido para receber o tratamento adequado até a reestruturação de seu estado de saúde.

— Tentamos a transferência para o INC, mas ela só foi possível após a liminar. Ele foi operado e quase um mês depois, no dia 8 de dezembro, a médica nos disse que ele estava bem e que ela precisava da vaga dele para atender a uma outra criança. Pedro voltou para o Hospital da Mulher e estava ganhando peso e melhorando — lembra o pai.

Após voltar a ser internado no Hospital da Mulher, Pedro aguardava uma resposta da Central de Regulação, que administra vagas em hospitais, para ser transferido mais uma vez.

— No sábado, dia 16, ele começou a apresentar problemas no aparelho respiratório. Na terça, ele foi entubado e os médicos disseram que os aparelhos do hospital não eram para crianças de pediatria, apenas para recém-nascidos de até 28 dias. Os profissinais colocaram o nome do Pedro na fila para conseguir uma vaga em uma UTI pediátrica, mas o estado retirou alegando que seu problema era crônico e não se encaixava no perfil pois era muito pequeno para uma UTI pediátrica. O quadro dele foi se agravando e na quinta ele teve duas paradas cardíacas. Hoje, ele não aguentou lutar contra a terceira — disse Carolino.

A advogada Vanessa Palamanes vai entrar com uma ação indenizatória contra o estado.

—Já tem uma ação em curso do Pedro contra o estado. Agora, cabe uma ação dos pais em relação à negligência do estado. Temos todos os documentos que deixam claro que o Pedro precisava ter sido transferido para outra unidade hospitalar — contou Vanessa.

Em nota, a direção do Hospital da Mulher Heloneida Studart reiterou que o paciente Pedro Carolino Matoso Reis vinha recebendo todo o atendimento e assistência necessários ao seu quadro clínico na unidade. Ainda de acordo com o documento, a assessoria de imprensa da secretaria de saúde informou que a UTI Neonatal da unidade dispõe de estrutura adequada, incluindo equipamentos, materiais e insumos, além de profissionais capacitados para este tipo de atendimento. Cabe esclarecer que não é verdadeira a informação de que a UTI Neonatal só tenha capacidade para atendimento de crianças de até 28 dias.

Quanto atestado de óbito, ainda de acordo com o documento, a direção do hospital esclarece que a causa apontada foi o choque refratário (não resposta à medicação), em consequência de sepse e cardiopatia congênita complexa. O paciente também estava em tratamento por conta de pneumonia.

A Secretaria de Estado de Saúde informou ainda que a transferência do paciente não era possível devido à gravidade do quadro de saúde dele.