2014-740589402-140711_gc_operacion_1.jpg_20140808fonte: O Globo

Música clássica e imagens de constelações ajudaram a acalmar uma paciente numa cirurgia no hospital Perpetuo Socorro, na Espanha. Josefa Ramírez fez parte de um experimento com o uso de realidade virtual, que já está mais presente na medicina do que se imagina e tem tido resultados expressivos. No caso de Josefa, que realizou uma artroscopia de joelho, em vez de medicamento, o que ela recebeu foram óculos da Oculus VR (sigla para realidade virtual) que a levaram para uma paisagem distante daquela da sala de cirurgia. E não parou por aí: o cirurgião-chefe, Gerardo Garcés, usava um Google Glass, transmitindo imagens do procedimento via internet para outros 150 profissionais e estudantes de Medicina da Universidade de Las Palmas.

Segundo os médicos, a aplicação da realidade virtual controla a ansiedade dos pacientes, diminuindo batimentos cardíacos e pressão arterial. A realidade virtual ficou popular no início dos anos 90, quando os primeiros headsets com a tecnologia apareceram no mercado. Mas na época as telas tinham baixa resolução e os sensores de movimento eram lentos.

SUPERAÇÃO DE LEMBRANÇAS

A tecnologia avançou e hoje é usada para diversos fins. O professor Willem-Paul Brinkman, da Universidade Técnica de Delft, na Holanda, conta que seu projeto de terapia de exposição de realidade virtual é desenvolvido desde 1999. Usando óculos similares ao de Josefa, o paciente é transportado a situações amedrontadoras, e sua reação é acompanhada por especialistas, até que ele consiga superá-las. O foco inicial foi bolar sistemas para tratar pessoas com medo de altura ou de voar num avião. Depois, usá-los contra fobia social, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e paranoia em pacientes com psicose.

— Nosso próximo passo será mover estas terapias para a casa dos pacientes, usando inclusive treinadores virtuais — explicou Brinkman ao GLOBO.

Uma revisão de estudos clínicos de 2008 da Universidade de Amsterdã mostra que a terapia de exposição à realidade virtual é tão eficiente quanto as demais para tratar transtornos de ansiedade.

A maneira mais comum de se tratar o TEPT é trazer à tona lembranças do trauma, pois a ativação repetida dessas situações permite à vítima aprender a associar a memória com menos medo. Por isso, pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia reuniram um grupo de 156 soldados americanos que estiveram no Afeganistão ou no Iraque. No tratamento, usavam equipamentos do Exército e os óculos VR para se “teletransportarem” aos locais dos confrontos. O professor Albert “Skip” Rizzo citou uma série de estudos garantindo a eficácia do método. Ele lembra, no entanto, que quando começou as pesquisas na área, em 1993 a tecnologia era “cara” e “bastante primitiva”.

— Avanços revolucionários nas tecnologias de VR permitiram a criação de sistemas sofisticados e acessíveis — comentou Rizzo.

Outro uso bastante diferente foi empregado por pesquisadores da Universidade de Washington, que acharam uma forma de diminuir o sofrimento de pessoas com queimaduras graves.

— É difícil tratá-las, pois as ataduras devem ser limpas com frequência para evitar a infecção — explicou Hunter Hoffman, da universidade, que criou um ambiente virtual de neve, o SnowWorld.

O ambiente gelado distrai o paciente e altera sua percepção de dor. A pesquisa conta com a brasileira Mariana Romo, que espera trazer a tecnologia ao Brasil. O empecilho ainda é o custo: US$ 35 mil. E está mais em conta: em 1990 chegava a US$ 90 mil.