fonte: O Globo

por Lian Pontes de Carvalho – professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis

Além das eleições gerais para as casas legislativas e para os cargos executivos de nossa política, em 2018 haverá também escolha para os conselhos regionais de medicina em todo o país. Esses conselhos são autarquias federais destinadas a proteger a população de práticas médicas equivocadas, por meio de uma fiscalização ética da profissão. Aqui no Estado do Rio de Janeiro, o Cremerj vem, nos últimos anos, perdendo seu espaço no que tange não só à proteção de toda a classe médica ante ao avanço de práticas lesivas à nossa categoria como do povo fluminense em geral. É hora de a entidade assumir seu papel de relevância.

Ao meu ver, o conselho que nos representa aqui no Rio padece de uma atuação mais rigorosa, seja na defesa de direitos dos médicos seja na condição de fiscalizador dos governos. Por que não desfraldar algumas bandeiras, como a da defesa de concursos públicos em detrimento à contratação de Organizações Sociais, as chamadas OS, que sangram as finanças estatais sem que haja efetivamente algum ganho para os pacientes? Por que não defender com necessária contundência a valorização da carreira médica, tão massacrada por sucessivos governos, seja em âmbito municipal, estadual ou federal? E o que dizer da regulamentação do Ato Médico e da Carreira de Estado, duas demandas há muito desejadas pela classe?

As eleições deste mês (vale lembrar que o voto será por meio de correspondência postada nos Correios) são a oportunidade para esta mudança de rumo. Ultimamente, as ações do Cremerj vêm sendo pautadas por interesses difusos, que, de tão desencontrados, muitas vezes, suscitam a pergunta: é bom para quem? Urge a necessidade de cada um de nós contribuir com sua porção para tornar nosso conselho mais forte. E ainda não há maneira mais direta e fácil, em regimes democráticos, do que usar o voto para estabelecer a vontade da maioria.

Por isso, rogo para que os cerca de 60 mil médicos que atuam no Estado do Rio reflitam sobre a importância deste momento. A eleição para o Cremerj se avizinha, e está mais do que na hora de avançarmos. De realmente colocar o nosso conselho à frente de batalhas travadas pela sociedade civil, muitas delas que ultrapassam as fronteiras da medicina. É de extrema importância que o nosso conselho assuma papel preponderante em causas que aflijam a população do ambiente no qual ele atua, seja em consultórios, clínicas e hospitais ou mesmo nas ruas. Ou a violência urbana desenfreada do Rio, por exemplo, não é tema que mereça o repúdio de todos nós, médicos? Violência esta que, muitas vezes, faz com que quase 40% dos atendimentos na rede pública culminem com agressão física ou verbal dos profissionais de saúde. Portanto, o momento é agora. De decidir: queremos um Cremerj tímido, muitas vezes acuado, ou um Cremerj atuante e ciente de sua importância?