fonte: O Globo

por Alfredo Guarischi – médico e integrante de chapa concorrente às eleições no Cremerj

Para que serve uma sociedade médica? Por que participar dela? Essas perguntas diretas muitas vezes têm respostas oblíquas ou tangenciais.

Não há dúvida de que a vida em sociedade, desde quando nos tornamos humanos, sofre mudanças constantes, com uniões, separações e guerras, pelos mais diversos motivos. No caso das guerras — qualquer que seja a dimensão no emprego do termo —, jamais saberemos a razão correta do fratricídio, pois a primeira vítima é a verdade; e a segunda, o perdão.

O sistema de saúde vive em guerra, com o sistema público loteado entre políticos e saqueado por corruptos; e o sistema privado se tornou um dos mais lucrativos negócios do país e o sonho de nossa abandonada população, pela insistente destruição do SUS. As vítimas dessa guerra, judicializada a todo instante, é a sociedade, que não exclui a própria classe médica e demais profissionais de saúde.

E aí? Vejamos.

Cabe aos conselhos profissionais atuar em defesa da ética e cuidar dos que os procuram. Na Medicina, esse papel cabe ao Conselho Regional de Medicina, o CRM, autarquia federal, que também fiscaliza e julga os médicos. Essas missões exigem dedicação, enfrentando burocráticas e complexas regras federais, muitas das quais anacrônicas. São apenas 40 médicos, por imposição de lei, que são eleitos a cada cinco anos para o cargo de conselheiro do CRM, independentemente da população, tamanho ou número de médicos registrados no estado.

Nos últimos cinco anos, tive a oportunidade de participar como membro da Câmara Técnica de Oncologia e da Segurança do Paciente, ajudando o corpo de conselheiros na luta contra o desastre da assistência oncológica e dos serviços de emergência; e contra a proliferação de organizações sociais, OS, que são uma maneira de privatizar os serviços públicos.

Foram inúmeras medidas judiciais, com a ajuda da Defensoria Pública e do Ministério Público, que resultaram em algumas vitórias para contratação de pessoal nos hospitais públicos e contra a terceirização. Durante o Encontro Nacional de Entidades Médicas, que ocorreu há duas semanas, em Brasília, foram aprovadas propostas contra as terceirizações, a favor de concursos públicos e do plano de cargo de carreira de Estado, semelhante ao do Judiciário. Ganhamos, mas de concreto pouco mudou. É terrível!

O Cremerj tem também atuado na educação médica continuada, com as aulas transmitidas ao vivo, buscando ampliar o conhecimento para todos.

A mais nova luta do Cremerj, depois de enfrentar o antigo prefeito, que deu uma carteirada numa jovem e ética médica, agora é contra o bispo prefeito, que quer transformar o SisReg (sistema de regulação de internações do SUS) em SisMarcia, em homenagem à sua assessora.

A missão do Cremerj é em defesa das boas práticas éticas e deve ter representatividade em defesa de um sistema de saúde plural que respeite a Constituição. Não pode tudo, mas tem feito tudo o que pode, e depende da união profissional para avançar mais.