A CIPERJ traz mais uma publicação sobre as principais doenças cirúrgicas em crianças, para informar e prevenir o público em geral. A série, criada no ano passado, já esclareceu dúvidas a respeito de invaginação intestinal e apendicite aguda.

Dessa vez, falaremos sobre hérnia inguinal, um problema cirúrgico muito comum.

Conversamos com a Dra. Danielle Forny, cirurgiã pediátrica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), da UFRJ, e discutimos as principais causas e o tratamento adequado para esta doença.

Hérnia inguinal em crianças:  do diagnóstico ao tratamento

  • O que é?

É uma doença que se manifesta com a passagem de uma víscera abdominal por um orifício na musculatura na região inguinal (virilha). Pode ser diagnosticada em qualquer idade, desde o nascimento. É frequente, que pode acometer até 5% da população, mas apresenta até o dobro dessa incidência nos prematuros. É mais comum no sexo masculino, afetando 5 a 10 homens para cada mulher. Pode haver predisposição familiar.

Na infância, a causa da hérnia inguinal é a manutenção de um conduto embrionário que comunica o abdome à bolsa escrotal (no sexo masculino) ou à vulva (nas meninas), permitindo a passagem de alguma estrutura intra-abdominal. Quando o diâmetro (largura) do conduto é pequeno, há somente a passagem de líquido, que origina a hidrocele (acúmulo de líquido ao redor do testículo).

Como esse canal não se fechou espontaneamente durante a gestação, a hérnia inguinal diagnosticada na infância é considerada uma doença congênita. Pode acometer ambos os lados, mas é mais frequente à direita.

O diagnóstico é clínico, com a observação de um abaulamento (“inchaço”) arredondado na região inguinal ou lesões volumosas, que se estendem à bolsa escrotal. As hérnias são mais frequentemente observadas nos momentos de maior pressão abdominal, como o choro ou a evacuação. Em situações onde persista dúvida diagnóstica, a ultrassonografia de região inguinal pode ser uma aliada, mas uma hérnia de pequeno volume pode não ser observada no exame, mesmo estando presente.

  • Como tratar?

O tratamento da hérnia inguinal é sempre cirúrgico, pois não acontece a resolução espontânea. Deve ser realizado o mais breve possível, a fim de evitar uma complicação temida, o encarceramento herniário, que é mais comum no sexo masculino e no primeiro ano de vida, principalmente nos três primeiros meses. Nessa situação uma porção do intestino passa para o interior da hérnia e fica aprisionada, impedida de retornar para o abdome. Caso não seja corrigida rapidamente, pode evoluir para um estrangulamento da hérnia, que pode causar necrose e até perfuração intestinal. Outras complicações são o encarceramento do ovário nas meninas, e a isquemia (falta de oxigenação) do testículo por compressão do conteúdo herniário encarcerado.

O diagnóstico e o tratamento das hérnias inguinais são feitos pelo cirurgião pediátrico, que é o médico especialista em doenças cirúrgicas na infância. Na consulta será avaliada a necessidade de realização de exames pré-operatórios (risco cirúrgico) e fornecidas as orientações sobre o período de jejum necessário assim como outros cuidados específicos no dia da cirurgia e no pós-operatório.

  • Como é a cirurgia?

É realizada por uma equipe especializada em Cirurgia Pediátrica, composta por cirurgião principal, cirurgião auxiliar, anestesiologista e instrumentadora cirúrgica. O procedimento é realizado obrigatoriamente em ambiente hospitalar, em geral com alta no mesmo dia.

A anestesia empregada é geral, do tipo inalatório, mas depende da avaliação de um médico anestesiologista. A cirurgia consiste em uma incisão na região inguinal (virilha) com fechamento do conduto patente que causa a hérnia.

Não é indicado o uso de telas de reforço nas hérnias inguinais na infância.

Ao final da cirurgia, a criança retorna para a companhia dos pais para a recuperação pós-operatória imediata, sendo liberada poucas horas depois.

No caso de prematuros ou pacientes com outras doenças associadas, pode ser necessário período mais longo de observação hospitalar.

  • Como é o pós-operatório?

No período pós-operatório é indicado repouso relativo, com suspensão de atividades esportivas, para evitar recidiva da hérnia.

  • Médica (cirurgiã pediátrica) do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ)
  • Graduada em Medicina pela UNIRIO
  • Residência em Cirurgia Pediátrica pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)
  • Mestrado em Medicina (Cirurgia Geral) pela UFRJ.
  • Membro titular da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica.
  • Membro da International Society of Paediatrical Surgical Oncology