fonte: BBC Brasil

As equipes passaram meses testando técnicas usando projeções de realidade virtual da imagem dos gêmeos, com base em tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas.

A operação foi descrita pelo cirurgião Noor ul Owase Jeelani como “coisa da era espacial”.

Foi um dos processos de separação mais complexos já concluídos, de acordo com a instituição de caridade que o financiou —Gemini Untwined—, que Jeelani fundou em 2018.

Ele disse que, pela primeira vez, cirurgiões em países diferentes usaram fones de ouvido e operaram juntos na mesma “sala de realidade virtual”.

Os gêmeos passaram por sete cirurgias, envolvendo mais de 27 horas de trabalho apenas na operação final, e quase cem médicos.

‘COISAS DA ERA ESPACIAL’

“É simplesmente maravilhoso. É realmente ótimo ver a anatomia e fazer a cirurgia antes de realmente colocar as crianças em risco”, disse Jeelani à agência de notícias PA.

“Você pode imaginar como isso é reconfortante para os cirurgiões. De certa forma, essas operações são consideradas as mais difíceis do nosso tempo, e fazê-la em realidade virtual era realmente coisa da era espacial.”

Ele disse que tentativas anteriores malsucedidas de separar os meninos significavam que sua anatomia era complicada por tecido cicatricial, e ele estava “realmente apreensivo” com o procedimento arriscado.

Jeelani disse que ficou “absolutamente exausto” após a operação de 27 horas, durante a qual fez apenas quatro pausas de 15 minutos para se alimentar e hidratar, mas que foi “maravilhoso” ver a família se sentindo “nas nuvens” depois.

Ele acrescentou que, como em todos os gêmeos siameses após a separação, a pressão arterial e os batimentos cardíacos dos meninos estavam altas —até que eles se reencontraram quatro dias depois e tocaram as mãos.

Os gêmeos estão se recuperando bem no hospital e terão pela frente seis meses de reabilitação.

MUDANÇA DE VIDA

Este foi o sexto procedimento de separação de Jeelani com a Gemini Untwined, depois de operar anteriormente gêmeos de Paquistão, Sudão, Israel e Turquia.

Ele liderou o procedimento ao lado do médico Gabriel Mufarrej, chefe de cirurgia pediátrica do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, no Rio de Janeiro.

Mufarrej disse que o hospital onde ele trabalha cuida dos meninos há dois anos e meio, e sua separação foi uma “mudança de vida”.

“Desde que os pais dos meninos vieram de sua casa na região de Roraima para o Rio para buscar nossa ajuda, há dois anos e meio, eles se tornaram parte da nossa família aqui no hospital.”

Bernardo e Arthur, com quase quatro anos de idade, são os gêmeos craniópagos —ou seja, gêmeos com cérebro fundido— mais velhos a se separarem.

De acordo com a instituição de caridade, um em cada 60 mil nascimentos resulta em gêmeos siameses, e apenas 5% deles são craniópagos.