"Os corpos não estavam acondicionados
de maneira correta. Uns estavam em sacos amarelos,
outros em sacos pretos, outros enrolados com lençol.
Era tudo absolutamente irregular. O que a gente
viu lá é indescritível, assustador,
estarrecedor. Não é forma digna de
armazenar qualquer corpo", afirmou Ana Cristina.
Além dos corpos dos bebês, ela contou
que, durante a vistoria no hospital, encontrou duas
gavetas com pernas e braços amputados que
também não tiveram o descarte adequado.
De acordo com a promotora, não há
risco de contaminação por conta dos
corpos armazenados. "A princípio, não
(há risco). Peritos legistas que fizeram
a vistoria comigo não relataram risco de
contaminação para o hospital",
afirmou.
Ana Cristina disse que o diretor do hospital, Rodolfo
Acatauassú Nunes, não a acompanhou
na vistoria. "Não recebi explicação
nenhuma para aquela situação. Na melhor
das hipóteses, é um descaso, um desrespeito",
afirmou.
Descoberta. Os 40 corpos de bebês armazenados
foram descobertos por acaso. Uma mulher deu à
luz em junho de 2012 um bebê prematuro de
6 meses que pesava 800 gramas. Usuária de
crack, ela abandonou o menino no hospital. A promotoria
da Infância e Juventude foi comunicada, como
é de praxe. A criança morreu em agosto
daquele ano. Quando a promotoria enviou ofício,
pedindo informações sobre o sepultamento
do bebê, para encerrar o caso, foi informada
que o corpo do menino continuava no necrotério
do hospital.
Em uma vistoria, a promotora encontrou 40 corpos
de bebês, 15 deles sem identificação
nenhuma. Ela cobra do hospital a identificação
dessas crianças por exame de DNA e "sepultamento
digno" para os corpos. Em entrevista ao programa
Fantástico, da Rede Globo, o diretor do hospital
reconheceu a falha e informou que abrirá
sindicância para corrigir os problemas. "Há
um problema social de as pessoas não buscarem
os corpos dos seus filhos que evoluíram mal
e vieram a falecer. Não se tem prazo máximo
para sepultamento e você pode ter a expectativa
de que o familiar vai vir pegar o corpo", afirmou,
ao programa. Procurada, a assessoria do HUPE ainda
não se pronunciou.