Uma
importante e necessária mudança no setor
de saúde suplementar está a caminho.
Contudo, ninguém é capaz de prever quando
sairá do forno o projeto do novo modelo de
remuneração hospitalar das fontes pagadoras
privadas, pois o assunto envolve incontáveis
variáveis e problemas ainda sem resposta.
Na manhã da sexta-feira (09/03),
a Câmara Britânica no Brasil reuniu, em
São Paulo, players envolvidos nas discussões
desta proposta que está sendo capitaneada pela
Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) e que conta com um grupo de trabalho que vem
discutindo o tema desde janeiro de 2010 e que prepara
para os próximos meses um projeto piloto da
proposta que vem sendo discutida.
De acordo com os especialistas, são
dois os principais motivos para a mudança.
O primeiro está atrelado à escalada
dos custos envolvidos nos procedimentos médicos,
principalmente dos insumos. O segundo diz respeito
à perversidade do atual sistema de remuneração
“fee for service”, que paga os prestadores
de serviço pela quantidade de atendimentos
feitos. “Ele traz desperdício de recursos
e muitas vezes compromete a qualidade da assistência”,
aponta a presidente da Unidas, Denise Eloi, que representa
as instituições de autogestão.
Segundo ela, o modelo atual privilegia
o gasto com insumos em detrimento de serviços
e honorários médicos. De acordo com
pesquisa da associação, quase 50% dos
custos dos gastos hospitalares referem-se a insumos,
enquanto que os médicos levam 12,5% da fatia.
Para o diretor da Diretoria de Desenvolvimento Setorial
da ANS e chefe do grupo de trabalho, Bruno Sobral,
outros problemas relacionados ao vigente modelo compreendem
a relação conflituosa e custosa com
os auditores e a desconfiança mútua
existente entre operadores e hospitais.
Todos querem que o cenário
mude, mas a solução mágica passa
por discussões que envolvem, por exemplo, os
critérios de reajuste das tabelas compactadas
de preços, o compartilhamento de riscos entre
os agentes, a avaliação de impacto para
ambas as partes, a definição de critérios
de renegociações, a criação
de indicadores de desempenho, a redução
da incerteza com relação aos investimentos
necessários para a mudança, novos sistemas
de gerenciamento de dados, etc. “Há uma
série de critérios subjetivos, variáveis
difíceis de serem dimensionadas e toda uma
mudança de cultura do setor que precisa ocorrer”,
opina Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo
do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar.
O vice-presidente da Abramge, Jair
Monaci, que também é integrante do grupo
de trabalho, afirma que é preciso reduzir os
interesses unilaterais e concentrar esforços
nos interesses convergentes visando a sustentabilidade
do setor no longo prazo. Ele explica que a nova proposta
que está sendo discutida leva em conta a previsibilidade
dos atendimentos. No caso de procedimentos de baixa
previsibilidade, o sistema de remuneração
seria uma conta aberta. Se a situação
possui alto grau de previsibilidade, os preços
seriam fixos. Para eventos clínicos, diárias
globais remunerariam o serviço e para eventos
cirúrgicos seriam adotados procedimentos gerenciados,
previamente definidos.
O representante da Anahp, associação
que congrega hospitais privados, Ary Costa Ribeiro
não acredita na adoção de um
único sistema de remuneração
e, sim, em uma multiplicidade de formas de pagamento.
Para ele, a definição de indicadores
de desempenho que possam impactar na remuneração
passa pelo aumento do número de hospitais acreditados
no Brasil. Ele vê como grande desafio para os
hospitais a gestão do corpo clínico
e fazê-lo entender que qualidade e segurança
assistencial geram redução de custos.
Sobral acredita que a mudança
trará grandes benefícios para o setor,
como o fim do consumo excessivo de insumos, a previsão
de custos e o aumento na qualidade dos serviços.
“Os beneficiários vão exigir cada
vez mais segurança e qualidade. A visão
de curto prazo está levando a deterioração
do sistema”, opinou.
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