Os
preparativos para a assinatura de um negócio
de Fusão ou aquisição costumam
demorar muitas horas — quase sempre sem pausa
para descanso ou mesmo para uma refeição.
Quando o contrato é finalmente fechado, resta
pouca energia para algo além de um tradicional
aperto de mãos e um brinde com champanhe. Na
madrugada do dia 30 de agosto de 2010, uma sala de
reuniões num prédio da avenida Brigadeiro
Faria Lima, novo centro financeiro de São Paulo,
foi palco de um desfecho diferente. Por exaustivas
e ininterruptas 14 horas, um grupo de quase 20 executivos,
advogados e assessores negociaram ali a união
da holding de empresas de diagnósticos MD1,
do empresário Edson de Godoy Bueno, com a Dasa,
maior rede de laboratórios da América
Latina. Após assinar o termo de entendimento
que o tornava o maior acionista individual do laboratório,
Bueno se levantou e disse: “Eu quero te dar
um beijo no coração!” A declaração
foi dirigida ao executivo Luís Terepins, presidente
do conselho de administração da Dasa.
Para espanto de alguns dos presentes, Bueno não
ficou só no discurso: aproximou-se de Terepins
e literalmente lhe tascou um beijo no peito.
Quem conhece Edson Bueno de outras negociações
sabe que o beijo é uma maneira toda particular
— e por vezes desconcertante — de expressar
sua satisfação com os resultados. Um
beijo na testa é sua manifestação
mais corriqueira. Um beijo na altura do peito, segundo
os versados nessa linguagem, representa a satisfação
máxima. No caso do negócio com a Dasa,
ele tinha muito a comemorar. Dono da maior operadora
de plano de saúde do país, a Amil, Bueno
comprara o controle do laboratório carioca
Sérgio Franco, que deu origem à MD1,
havia apenas uma década. Com faturamento de
400 milhões de reais por ano, a MD1 tem um
terço do tamanho da Dasa. Ainda assim, ofereceu
em troca algo que a líder não conseguiria
de outra maneira — a dominância no mercado
carioca, o segundo do país, com cerca de 30%
de participação. No arranjo final, Bueno
ficou com 26,3% da Dasa, que tem 73,7% de seus papéis
negociados livremente no mercado. Mais do que uma
posição privilegiada nesse segmento,
o passo o tornou o maior consolidador de serviços
de saúde no Brasil. Em conjunto, todas as empresas
em que investe — a Amil, a Dasa e a rede de
hospitais Total Care — faturaram cerca de 10,5
bilhões de reais em 2010. De janeiro a setembro
do ano passado, a Amil e a Dasa lucraram, juntas,
300 milhões de reais. Para tomar esse porte,
Bueno empreendeu 15 aquisições nos últimos
três anos, desembolsando 2,1 bilhões
de reais — o dobro dos investimentos da Bradesco
Saúde, segunda maior prestadora de serviços
de saúde do país, no mesmo período.
Sua maior investida foi a compra da Medial, em dezembro
de 2009, por 1,2 bilhão de reais. Numa conta
conservadora, a fortuna pessoal de Edson Bueno chega
a 6 bilhões de reais. “Se alguém
no setor de saúde preferisse ter o Bueno como
concorrente em vez de sócio, eu questionaria
a decisão”, diz Pedro Cerize, gestor
do fundo Skopos, que detém 9% das ações
da Dasa.
Na última década, o setor de saúde
privada cresceu a um ritmo inédito no Brasil,
transformando-se num negócio cada vez mais
atraente aos olhos dos investidores. De 2000 a 2010,
as operadoras de saúde ganharam 14 milhões
de novos usuários, num crescimento de 50% no
período. É resultado direto da expansão
nos empregos formais — cerca de 80% dos planos
de saúde no mercado brasileiro são contratados
por empresas. Num país com um sistema público
de saúde vexatório, o acesso à
assistência privada tornou-se um objeto de desejo
por parte da sociedade, parte das vantagens que fazem
da “carteira assinada” um dos maiores
sonhos do brasileiro. Nos próximos anos, o
aumento da expectativa de vida também deve
ampliar a base de consumidores desses serviços.
Espera-se que até 2050 a população
brasileira some 64 milhões de habitantes com
mais de 60 anos de idade, mais que o triplo dos atuais
19 milhões. E, quanto mais velhos ficamos,
maiores são nossas demandas nessa área.
A evolução do mercado de saúde
provocou uma onda de fusões e aquisições
sem precedentes — em 2010, as compras de empresas
do setor movimentaram 4,1 bilhões de dólares,
quatro vezes mais do que a média dos cinco
anos anteriores (veja quadro ao lado). Recentemente,
o potencial do setor de saúde passou a atrair
também investidores financeiros, como o banco
BTG, de André Esteves, que comprou uma participação
na Rede D’Or, a segunda maior cadeia de hospitais
privados do país (o valor da aquisição
não foi divulgado).
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