Os
médicos alegam que nos últimos 11 anos,
os índices de inflação acumulados
superaram os 119%. Por outro lado, os reajustes dos
planos somaram 150%, enquanto os honorários
médicos não atingiram reajustes de 50%
no período (ver tabela anexa). Os números
são ainda mais surpreendentes se comparados
com o desempenho do mercado de planos de saúde.
Os analistas apontam uma tendência
anual de crescimento superior a 10%, o que tem garantido
faturamento alto às operadoras. Em 2011, a
receita dessas empresas bateu a casa de R$ 81 bilhões,
no entanto, sem suficiente contrapartida em termos
de valorização do trabalho médico
e na oferta de cobertura às demandas dos pacientes.
Confira os dados gerais sobre
o setor:
O Brasil tem 371 mil médicos
em atividade, registrados no Conselho Federal de Medicina.
Aproximadamente 170 mil médicos
atuam na saúde suplementar, atendem usuários
de planos e de seguros de saúde.
47,6 milhões (24,9% da população)
é o número de usuários de planos
de assistência médica no Brasil. O dado
é de dezembro de 2011.
77% dos usuários de planos
de assistência médica estão em
planos coletivos (quase 37 milhões de pessoas).20%
têm plano individual ou familiar.
- Por ano, os médicos realizam, por meio dos
planos de saúde, em torno de 223 milhões
de consultas e acompanham 4,8 milhões de internações.
- Os médicos atendem, em média, em seus
consultórios, oito planos ou seguros saúde.
- Cada usuário de plano de saúde vai
ao médico (consulta) em média 5 vezes
por ano.
-- 80% das consultas, em um mês típico
de consultório médico, são realizadas
por meio de plano de saúde. As consultas particulares
representam, em média, 20% do trabalho médico
em consultório.
-- Dos usuários de planos de assistência
médica, 16,3% ainda permanecem em planos antigos
(7,8 milhões), muitos deles com restrições
de cobertura ainda piores do que as praticadas pelos
planos novos (contratos após janeiro de 1999).
-- Entre dezembro de 2010 e dezembro de 2011, mais
1,9 milhão de brasileiros passaram a ter plano
de saúde – aumento de 4,2%.
-- O aumento da renda dos brasileiros e a situação
positiva do mercado de trabalho, com baixas taxas
de desemprego e crescimento de vínculos formais
com carteira assinada, fizeram crescer a venda de
planos de saúde, sobretudo os coletivos e empresariais,
que somam 77% do mercado.
Dados sobre os reajustes
praticados pelas operadoras
Os índices de inflação
– de 2000 a 2011, medidos pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
utilizado pelo governo para medição
das metas inflacionárias – acumularam
119,8% no período, o que não foi repassado
aos honorários médicos.
De 2000 a 2011, os reajustes da ANS
autorizados para os planos individuais acumularam
150,89%, sem repasse aos honorários médicos.
A ANS autorizou em 2011 o maior aumento às
operadoras desde 2007, ao fixar em 7,69% o índice
de reajuste. Os planos coletivos podem ter reajustes
anuais ainda maiores, pois é livre a negociação
entre operadoras e empresas ou grupos contratantes.
Dados sobre a saúde
financeira das operadoras
A receita dos planos de saúde
não para de crescer. Em 2011, as operadoras
médico-hospitalares tiveram uma receita de
R$ 81,3 bilhões, 11,1% a mais que em 2010.
O aquecimento do mercado de planos
de saúde é confirmado pelo número
de registros de operadoras. Pela primeira vez em dez
anos, o número registros (12 empresas novas)
foi maior que o número de cancelamentos (4),
isso analisando o primeiro trimestre de 2011. Existem
hoje 1.042 planos ativos com beneficiários,
dos quais 70% são de pequeno porte, com até
20.000 pessoas.
O valor médio da mensalidade
cobrada pelos planos de saúde em 2010 foi de
R$ 127,00, uma variação de 9,1% em relação
a 2009, quando os planos custavam, em média,
R$ 116,37 per capita/mês.
A sinistralidade (razão entre
a despesa assistencial e receita angariada com as
mensalidades) é de 81,6%.
Dados sobre a interferência
dos planos na autonomia dos médicos
O médico que trabalha com
planos ou seguros de saúde atribui, em média,
nota 5 para as operadoras, em escala de zero a dez.
Ressalta-se que 5% dos médicos deram nota zero
para os planos ou seguros saúde brasileiros
e apenas 1% atribuiu notas 9 ou 10*.
92% dos médicos brasileiros
que atendem planos ou seguros saúde afirmam
que sofreram pressão ou ocorreu interferência
das operadoras na autonomia técnica do médico*.
Entre as interferências no
trabalho médico, glosar procedimentos ou medidas
terapêuticas e impor a redução
de número de exames ou procedimentos são
as práticas mais comuns das operadoras (veja
quadro abaixo)*.
Mais da metade dos hospitais (54,9%)
afirma que os planos de saúde determinam a
transferência de pacientes para hospitais próprios
das operadoras.
Mais da metade dos hospitais (51%)
afirma que os planos de saúde demoram na liberação
de guias de autorização para internação,
cirurgia e exames, o que prejudica pacientes e médicos.
Dados da Associação
Brasileira de Defesa do Consumidor (PROTESTE) apontam
que, quanto maior o número de clientes de uma
operadora de plano de saúde, maior o tempo
médio para agendamento de consultas e procedimentos.
Segundo pesquisa da PROTESTE com
500 associados, sendo 30% clientes de planos individuais
e 70% de coletivos, o consumidor leva, em média,
14 dias para agendar consulta e 6 dias para procedimento
ambulatorial ou exame, nos individuais. Já
nos demais, os períodos são de 16 e
9 dias, respectivamente.
Pesquisa do CFM realizado pelo Datafolha,
em abril de 2011, que ouviu 2.061 pessoas distribuídas
em 145 municípios, mostrou que 80% das pessoas
que têm planos de saúde utilizaram a
rede credenciada nos últimos 12 meses.
Seis em cada dez usuários
da saúde suplementar tiveram, no último
ano, alguma experiência negativa com o atendimento
oferecido pelos planos de saúde.
As reclamações mais
comuns estão relacionadas com a demora no atendimento
ou fila de espera no pronto-socorro, no laboratório
ou na clínica (26%).
Percentual significativo dos entrevistados
(21%) também relatou existirem poucas opções
de médicos, hospitais e laboratórios
(21%) disponíveis para o atendimento de suas
necessidades.
Outros 14% contam que tiveram que
buscar a assistência no Sistema Único
de Saúde (SUS) por conta da negação
de cobertura ou restrição de atendimento
do plano de saúde contratado.
Com relação ao atendimento
médico, a principal queixa dos entrevistados
consiste na dificuldade de marcar consulta (19%) e
no descredenciamento do profissional médico
procurado (18%).
O excesso de burocracia foi outro
ponto de reclamação dos usuários:
13% vivenciaram demora para autorização
de exames ou liberação de guias, inclusive
de internação, e 12% tiveram negativa
de cobertura de procedimento ou exame.
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