Com instrumentos cirúrgicos obsoletos, mobiliário
antigo e quebrado - as macas cirúrgicas são
de 1969 - aparelhos de monitoramento sem bateria interna,
geradores que falham e fornecimento irregular de remédios,
a unidade, que forma estudantes de medicina da Universidade
Gama Filho e é referência para oftalmologia
e ginecologia, realizava até a semana passada
operações com o foco de luz amarrado
com compressas, mesas aparando as pernas das pacientes
em cirurgias ginecológicas e pinças
que, de tão desgastadas, impediam a precisão
nos procedimentos. Após vistoria do Cremerj
no último dia 24, o centro cirúrgico
foi fechado.
- Os profissionais decidiram parar. A situação
é grave e coloca em risco a vida do paciente
- diz o conselheiro do Cremerj, Sidnei Ferreira.
O médico se refere a três casos descritos
no relatório do conselho. No mais grave, devido
à falta de energia, o paciente precisou ser
ventilado manualmente por 40 minutos até o
término da cirurgia, realizada sob as luzes
dos celulares da equipe.
A situação não é diferente
na Unidade Coronariana, que passou três meses
sem unidade geradora de marcapasso, até que,
no último dia 20, um paciente precisou ser
reanimado com socos no peito e massagem cardíaca
por uma hora e meia até ser transferido para
o Salgado Filho, onde poderia ser implantado o marcapasso.
A Secretaria municipal de Saúde informou que
o homem recebeu alta no último dia 27.
- Após esse episódio, o hospital recebeu
uma unidade geradora de marcapasso emprestada - diz
Ferreira.
Na enfermaria da cardiologia, descreve o relatório
do Cremerj, os dois aparelhos de eletrocardiograma
não funcionavam. E, até o último
dia 20, não havia desfibrilador.
Com as internações na pediatria e todas
as cirurgias suspensas, resta aos médicos ensinarem
a seus alunos o resultado da má gestão
de recursos públicos.
Com o centro cirúrgico fechado, médicos
do Hospital da Piedade informaram que apenas cirurgias
de emergência, caso um paciente piore repentinamente,
estão sendo realizadas no Salgado Filho, no
Méier.
Em nota enviada pela assessoria da Secretaria municipal
de Saúde, a direção do Hospital
da Piedade informou que estão em andamento
obras de manutenção no centro cirúrgico.
“Ao fim das intervenções, novo
mobiliário e equipamentos serão disponibilizados”,
afirma.
A direção do hospital informou também
que já há orçamento fechado para
a construção do novo centro cirúrgico,
com maior capacidade de atendimento. Segundo a nota,
serão oito salas, sendo três para a oftalmologia.
“O projeto está em fase de ajustes para
que as melhorias sejam iniciadas”, afirma a
direção, acrescentando que as cirurgias
oftalmológicas estão sendo realizadas
no próprio hospital. A informação
é negada por médicos do setor.
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