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SES afirma que sua motivação é
a dificuldade de se contratar pediatras. Entretanto,
não faltam pediatras, principalmente no Sudeste.
Faltam, isso sim, concurso público, salário
digno com piso inicial para 20 horas de trabalho de
R$ 9.813 (piso Fenam), plano de cargos, carreira e
vencimentos, condições adequadas de
trabalho, entre outras coisas.
Equipes precisam ser formadas e mantidas,
para que daqui a algum tempo estejam aptas a continuar
o que as que hoje estão se dissolvendo fazem
há anos, ou seja, treinamento dos médicos
mais jovens que chegam às unidades públicas
de saúde.
Por que as crianças maiores
e adolescentes serão atendidas por “socorristas”
e não por pediatras, como acontece hoje? Não
podemos admitir isso, a não ser em casos excepcionais,
como houve na epidemia de dengue em 2010, quando os
pediatras do Rio de Janeiro e demais especialistas
deram conta da demanda e fizeram excelente trabalho,
apesar da precariedade das unidades de saúde,
enquanto que os médicos de outros Estados,
chamados pela Secretaria de Saúde “a
preço de ouro”, mostraram-se desnecessários.
O governo dizia não haver médicos suficientes;
em 48 horas, o CREMERJ apresentou aos gestores uma
lista com cerca de 400 médicos. Nenhum deles
foi contratado, sob alegação de que
não se poderia pagar o mesmo que se pagava
aos médicos vindos de fora.
Os pediatras do IPPMG que trabalharem
nesse convênio, caso seja assinado, poderão
ser, em tese, responsabilizados pelos infortúnios
que porventura ocorram com crianças e adolescentes
atendidos pelos “socorristas não pediatras”,
pois ambos seriam responsáveis pelo atendimento.
Dados das unidades de saúde
do nosso Estado dos últimos 10 meses, fruto
de fiscalizações e pesquisas do CREMERJ,
mostram que faltam médicos em 74% das instituições
públicas, em 40% das privadas e em 50% das
unidades geridas por OSs. Na rede básica, em
69%; nos hospitais gerais, em 69%; e nas maternidades,
em 87%. Em todas as emergências públicas
do nosso Estado, municipais, estaduais e federais,
faltam médicos. Não faltam só
pediatras, faltam médicos de todas as especialidades.
A telemedicina é bem vinda.
Ela poderá se tornar uma ferramenta útil
se usada com sabedoria e ética, como instrumento
complementar, não como substituta de médicos.
Todos desejam que o SUS dê certo, que atenda
bem às necessidades da população
e que possa ensinar bem aos futuros e recém-formados
médicos. É preciso nove anos para se
formar um pediatra, ou seja, não será
com capacitações de algumas semanas,
manual de atendimento ou atendimento à distância
que o governo poderá substituir pediatras ou
outros especialistas para baratear o custo da medicina
oferecida.
O CREMERJ entende que a gestão,
seja em qual esfera for, deve valorizar o profissional,
defender a dignidade do seu exercício e garantir
atendimento com humanidade, respeito e excelência
à nossa população, que financia
o SUS e paga os salários não só
dos médicos, mas também dos gestores.
Os médicos não concordam
com essa proposta da SES, e o CREMERJ lutará
para que a mesma não seja posta em prática
em nenhuma unidade pública ou privada do Estado
ou do país.
Márcia Rosa de Araujo
Presidente do CREMERJ
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