“O país atravessa um momento impar
de transição epidemiológica.
As doenças da modernidade – neoplasias,
problemas cardiácos e a violência –
já são as principais causas de mortalidade
no país. Contudo, perguntamos: será
que estamos preparados para essa onda, que exigirá
cada vez mais do SUS? Não seria o momento
de refletir o atual modelo com rigor, mantendo-o
e oferecendo condições para sua sobrevivência?”,
indaga Roberto d’Avila, presidente do CFM.
As doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) representam um grande desafio. De acordo
com o relatório da OPAS/OMS, no Brasil, em
2009, do total de óbitos, 72,4% foram em
decorrência delas. As doenças cardiovasculares,
causas externas e neoplasias provocaram 59% de todas
as mortes de homens. Nas mulheres, as doenças
cardiovasculares, o câncer e as doenças
respiratórias representaram 61% das mortes.
O documento aponta aumento da proporção
de óbitos por neoplasias (11,4% em 1996 para
15,7% em 2010), doenças endócrinas,
nutricionais e metabólicas (0,4% para 6,2%)
e doenças do aparelho circulatório
(27,5 % para 28,7%).
Para o presidente do CFM, além desse desafio
há questões que se relacionam com
a ampliação de uma oferta de atenção
básica (postos de saúde e equipes
de saúde da família, entre outros)
capaz de combater e garantir o combate à
doenças infectocontagiosas, como a tuberculose,
que ainda fazem milhares de vítimas. Atualmente,
o Brasil está entre os 22 países com
maior carga de tuberculose, afirmou a OPAS/OMS.
Em 2010, 71 mil novos casos foram registrados –
37,2 por 100 mil habitantes, 30% a menos do que
em 1990, mas uma incidência significativa.
O fortalecimento dessa rede de atenção
básica também teria reflexos em outros
indicadores, como o de mortalidade materna, que
poderia cair se houvesse garantia de melhor atendimento
às gestantes – do pré-natal
ao pós-parto. Embora tenha havido uma diminuição
das causas de morte materna entre 1990 e 2010, período
em que caiu de 141 para 68 óbitos para cada
100 mil nascidos vivos, as projeções
refletem dificuldades em cumprir a meta do quinto
Objetivos do Milênio (ODM). A meta é
baixar a taxa para 35 mortes para cada 100 mil nascidos
vivos até 2015.
O CFM concorda com o impacto positivo do SUS para
a sociedade, como aponta o Relatório “Saúde
nas Américas 2012”. O documento indica
que, nas últimas décadas, tem havido
melhorias significativas nas condições
de vida e na situação de saúde
da população, associadas a mudanças
políticas e socioeconômicas.
Também como a OPAS e OMS, o Conselho acredita
que o sucesso das políticas para melhorar
as condições de vida e reduzir a desigualdade
social é um estímulo para enfrentar
os desafios presentes e futuros no setor da saúde.
“É preciso encarar o problema de frente.
Os gestores devem entender que a condução
de um sistema baseado nas diretrizes da universalidade,
integralidade e equidade no acesso necessita de
uma visão estruturante. Ou seja, as decisões
não podem buscar respostas imediatas e muito
menos midiáticas. O brasileiro precisa –
e espera – por soluções permanentes,
de longo prazo”, concluiu o presidente do
CFM.