Há
dois anos, durante o mestrado que fazia na UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), Nilmar, 47, teve uma ideia:
criar um artefato no qual os doentes acamados pudessem
tomar um banho mais próximo do real ("banho
de verdade, com água").
Nascia a "maca higienizadora", uma engenhoca
construída em aço inox, forrada com
colchão impermeável e dotada de um boiler
que possibilita banho quente e um reservatório
com capacidade para 20 litros de água.
A quantidade é suficiente para seis banhos.
Depois, a maca precisa ser "reabastecida"
novamente. "Calculei o tempo e a média
de água a partir da minha experiência.
É o suficiente."
Toda a preparação (encher o reservatório
de água e esquentá-la) é feita
antes da transferência do paciente da cama para
a maca. "Não tem perigo de choque",
afirma.
A maca possui furos nas extremidades, por onde a água
é drenada após o banho e escoada para
um reservatório separado da água limpa.
Antes de ser esvaziado, porém, o tanque recebe
pastilhas de cloro. "Assim, a gente evita o contágio
e a proliferação de bactérias
que possam estar na água do banho."
A enfermeira pensou ainda na privacidade do paciente,
colocando abas nas laterais e nas pontas da maca.
"Muitos hospitais do SUS não têm
biombo. O doente toma banho exposto."
Apagão também não tem vez para
a "supermaca". Se faltar luz, entra em ação
a bateria recarregável de 24 volts e duração
de até dois meses.
EDITAL
O difícil foi colocar o projeto
de pé. Ela diz ter batido "numas 20 portas"
de empresários tentando viabilizar a produção
da maca, mas nenhum deles quis bancá-la. "Eles
só queriam a minha ideia, mas eu não
dei, não."
Em 2011, Nilmar inscreveu o projeto em um edital de
inovação tecnológica da Faperj
(Fundação de Apoio à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro) e foi selecionada.
"É um projeto de inovação
social, que vai ser muito útil para sociedade,
principalmente para o paciente acamado", diz
o físico nuclear Rex Nazaré, diretor
de ciência e tecnologia da Faperj.
Ele afirma que seu sonho é
que o governo valorize o produto para que outros inventores
brasileiros possam ter estímulo para colocar
ideias inovadoras em prática.
Com o dinheiro do projeto (R$ 50 mil) e ajuda de um
designer, um engenheiro mecânico e um engenheiro
elétrico ("o mecânico ajudou a projetar
e o elétrico comandou meus pensamentos"),
a maca foi se tornando realidade.
"Fiz vários ensaios para sentir a maca.
Eu mesma tomei uns 300 banhos. Uma hora ela escorregava,
eu falava que aquilo não estava bom e mandava
construir outra. Deixei os engenheiros loucos!",
diverte-se.
A maca, desenhada originalmente para hospitais públicos,
recebeu neste ano versões para hospitais particulares
e home care. Custa R$ 15 mil. "Mas não
é à vista não, eu parcelo",
reforça a agora empresária Nilmar.
Ela terceirizou a produção, mas o fluxo
ainda é caseiro. "Com o dinheiro do que
eu vendo, mando fabricar as próximas unidades."
Neste ano, Nilmar ganhou dois prêmios (nacional
e internacional) na área de inovação.
E a enfermeira-inventora-empresária não
deve ficar só na maca. Ela já tem na
cachola outros dois produtos hospitalares em fase
de desenvolvimento. "Mas esses ainda são
segredo."
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