Emma
sofria de leucemia linfoblástica, que consiste
na produção de glóbulos brancos
imaturos , desde 2010. Não havia muitas opções.
Já havia sofrido duas recaídas. Desesperados
e com medo de perder a filha única, os pais
decidiram apostar na experiência do Hospital
da Filadélfia, que já havia tratado
outros 12 pacientes com o método. Três
adultos apresentaram remissão completa. Dois,
porém, apresentaram melhoras por apenas dois
anos e quatro não obtiveram a remissão
total. Uma criança, melhorou, mas teve uma
recaída. Em dois, o tratamento não funcionou.
O método, portanto, não garantia a eficácia
total.
Células T, presentes no sistema
imunológico e que têm como especialidade
combater objetos invasores, foram retiradas do corpo
de Emma. Neste momento, foram reprogramadas geneticamente
através de vírus desativados de HIV,
que, segundo os médicos, funcionam melhor com
este tipo de célula. Elas, foram, então,
reinseridas no organismo. Logo começaram a
se multilpicar freneticamente, o que fortaleceu o
combate às células B, que geram a produção
de elementos malignos que levam à leucemia.
O vírus produz uma proteína
semelhante a um anticorpo, chamada receptor quimérico
de antígenos. Este elemento se junta à
proteção externa das células
T e é concebido para anular uma proteína
chamada CD 19, que está presente nas tumorais
e em algumas normais. As células modificadas
voltam ao corpo do paciente e passam, então,
a exercer a função. As que não
expressam o CD 19 são ignoradas, o que diminui
os riscos de efeitos colaterais.
Um sinal de que o tratamento funciona
são os sintomas de febre alta e calafrios frequentes.
O problema se chama Síndrome da Liberação
de Citocinas e se refere aos pródutos químicos
que são expelidos das células do sistema
imunológico quando ativadas, o que gera os
problemas e pode afetar os pulmões e causar
quedas perigosas na pressão arterial. O efeito
quase levou Emma à morte.
Esteróides, garantem os médicos,
podem facilitar a resitência do paciente nesta
fase do tratamento. Para Emma, porém, não
funcionaram. A temperatura da menina chegou a 41º
C e ela precisou ficar exposta constantemente a um
ventilador, inchada, inconsciente e quase irrreconhecível,
cercada de familiares e amigos que foram se despedir.
O nível de uma das citocinas,
a Interleucina-6, havia subido quase mil vezes na
criança, o que não era esperado. O doutor
Carl June, líder da equipe de pesquisa envolvida
no tratamento pela Universidade da Pensilvânia,
lembrou-se, então, de um remédio usado
pela filha contra reumatóide. As chances eram
mínimas, mas decidiu arriscar. O resultado,
diz, foi “incrível”. Aos poucos,
Emma começou a apresentar melhoras. Acordou
uma semana depois, no dia de seu aniversário
de 7 anos.
A esperança dos pesquisadores
é que o novo método possa substituir
o transplante de medula óssea, considerado
arriscado e caro, hoje a última opção
no tratamento da doença. O tratamento consegue
diminuir a sobrevida em, no máximo, 30%.
Apesar dos resultados diversos nos
testes, os pesquisadores afirmam que o método
é promissor devido aos casos de melhoras em
pacientes que não apresentavam mais esperanças
de sobreviverem.
— Isso, por si, já é
um grande avanço — declarou Ivan Borrello,
especialista em câncer e professor de medicina
na Escola de Medicina da Universidade John Hopkins,
nos Estados Unidos.
Nos pacientes com remissão
duradoura após o tratamento, verificou-se que
as células T modificadas continuam a circular
no sangue, embora em menor número.
— Nosso objetivo é ter
uma cura, mas não podemos dizer esta palavra
— diz June.
Já o doutor John Wagner, diretor
de transplante de medula na Universidade da Minnesota,
classificou a recuperação de Emma como
“fenomenal”.
O tratamento chamou a atenção
do mercado farmacêutico. Uma empresa se comprometeu
a investir R$ 20 milhões em um centro de pesquisas
no campo da Universidade da Pensilvânia para
iniciar as pesquisas sobre o assunto. |