Folha
- Como o sr. avalia as mudanças anunciadas
nos cursos de medicina?
Miguel Srougi -
Filosoficamente, a ideia me agrada muito. Existe uma
dívida dos indivíduos que estudam medicina
nas escolas públicas, isso aconteceu comigo.
De alguma forma, retribuir à
sociedade o privilégio que tivemos, é
muito importante.
Mas, pelo que vi, é preciso
ser mais bem desenhada. Envolve mudar a grade curricular
de todas faculdades. Não sei até que
ponto não fere a autonomia universitária.
Como assim?
Acho complicado criar uma lei obrigando
as pessoas a fazerem determinadas coisas. Nem serviço
militar é totalmente obrigatório, a
pessoa pode alegar questões de foro íntimo,
religiosas, e não fazer.
Não sei até que ponto
não feriria a liberdade individual. Não
se pode obrigar alguém a fazer o que não
quer.
Esse aumento do curso para oito anos
também pode ser complicado. O sujeito vai precisar
de mais três ou quatro anos para a residência.
Ou seja, vai passar 13 anos estudando. E se tem família
para sustentar, como é que fica?
Mas ele já vai entrar na faculdade
sabendo das regras...
Essa ideia é filosoficamente
perfeita se bem explorada. Mas não pode ser
entuchada na cara de todo mundo. Esses jovens médicos
precisam de instrutores de qualidade.
Os professores vão
para os grotões supervisioná-los?
É preciso ter um debate amplo
com a sociedade, envolvendo as universidades, o setor
público, as sociedades médicas. O governo
não pode colocar isso à força
de um dia para o outro. |