O objetivo do programa é formar recursos
humanos na área médica para o Sistema
Único de Saúde (SUS). Pelo menos dois
pontos geraram polêmica e já são
alvo de sugestões dos parlamentares para
alteração do texto: a prática
obrigatória de dois anos no SUS para os estudantes
de medicina e a contratação de médicos
estrangeiros, sem a necessidade da revalidação
dos diplomas.
Recordista na apresentação emendas,
50 no total, o deputado Mandetta (DEM-MS) classifica
o Programa Mais Médicos de “muito ruim”.
"Quando se apresentam muitas emendas é
porque o texto precisa ser radicalmente mudado.
O correto seria o governo retirar essa medida provisória,
que não cumpre os critérios de urgência,
porque este é um problema complexo”,
defende.
O líder do Democratas, deputado Ronaldo Caiado
(GO), que é ortopedista, também não
poupou críticas ao programa. Ele afirma que
o governo quer transferir para os médicos
a responsabilidade pela crise na saúde do
País.
Caiado ressalta a importância da revalidação
dos diplomas dos profissionais estrangeiros como
forma de evitar a entrada no País de profissionais
sem a qualificação adequada. "Não
temos nada contra a entrada de médicos no
Brasil, desde que, como em todo e qualquer país
do mundo, faça aquilo que é exigido:
a revalidação de seu diploma, para
saber se esse médico tem qualificações
mínimas para o exercício da profissão”,
diz.
Para o líder da Minoria, deputado Nilson
Leitão (PSDB-MT), os debates na comissão
especial serão acalorados. Segundo ele, o
governo tem outras opções para melhorar
a saúde como atualizar as tabelas do SUS
e tornar mais eficiente os repasses de recursos
para estados e municípios.
Leitão manifestou repúdio à
obrigação imposta pelo governo aos
estudantes. "Em vez de exigir do estudante
o estágio de dois anos em uma cidade, ele
poderia melhorar a tabela do SUS e exigir que o
médico que está lá na cidade
atendesse", disse.
Senado Federal - Na Casa legislativa revisora, os
parlamentares apresentaram mais de 200 emendas à
MP. Entre as alterações sugeridas
estão a obrigatoriedade da revalidação
de diplomas para médicos formados no exterior;
a necessidade de aprovação em exame
de proficiência em língua portuguesa;
a responsabilidade solidária de tutores e
supervisores pelos atos dos médicos intercambistas;
a garantia de direitos trabalhistas para os médicos
estrangeiros e brasileiros formados no exterior
que vierem a atuar no programa.
Mesmo pertencendo a base governista, o senador
Vital do Rêgo (PMDB-PB) apresentou 15 propostas
de mudanças no texto enviado pelo Planalto
ao Congresso, em questões como a revalidação
de diplomas para médicos formados no exterior.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR), ao comentar a
MP em Plenário, classificou como “desatino”
a decisão do governo de equacionar o problema
da saúde através desse tipo de proposição
legislativa.
Uma das emendas do senador elimina a autorização
de custeio de despesas com deslocamento de médicos
e seus familiares. Já alteração
proposta pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
exige processo licitatório para pagamentos
de bolsas a médicos contratados no programa.
O senador Sérgio Souza (PMDB-PR) demonstrou
preocupação com a viabilização
do programa. Emenda proposta por ele determina a
fixação de um valor mínimo
a ser repassado pelo Ministério da Saúde
para o custeio das ações de atenção
básica à saúde previstas na
medida provisória.
Focalizando o aspecto regional, o senador Inácio
Arruda (PCdoB-CE) apresentou emenda reivindicando
precedência na abertura de novos cursos de
medicina para as regiões com maior carência
de médicos - Norte e Nordeste. Outra de suas
propostas amplia os gastos da União na área
de saúde, dos atuais 7% para no mínimo
10% das receitas correntes brutas.
Emenda da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
propõe o pagamento de salários maiores
para médicos contratados pelo programa para
atender na região amazônica e outros
locais de difícil acesso.
O senador José Agripino (DEM-RN) propôs
emendas fixando prazo para abertura de novos cursos
de medicina e também fixando carga mínima
de 120 horas para a disciplina de geriatria no primeiro
ciclo de formação de médicos.
Outros senadores que apresentaram emendas ao texto
foram Paulo Bauer (PSDB-SC), Ana Amélia (PP-RS),
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Mozarildo Cavalcanti
(PTB-RR), Cícero Lucena (PSDB-PB), Lúcia
Vânia (PSDB-GO), Waldemir Moka (PMDB-MS),
Paulo Davim (PV-RN), Ricardo Ferraço (PMDB-ES),
Ruben Figueiró (PSDB-MS) e Eduardo Amorim
(PSC-CE).
Pedidos de anulação
- No dia 23, a Associação Médica
Brasileira (AMB) entrou na Justiça federal
com um pedido de anulação do Programa
Mais Médicos. No mandado de segurança
proposto, a AMB questionou a falta de urgência
e de relevância do programa e a vinda de médicos
estrangeiros para o Brasil sem a validação
de diplomas. Outro argumento contra o programa foi
a falta de comprovação do domínio
da língua portuguesa pelos candidatos estrangeiros.
O pedido de liminar foi negado, mas há outras
ações em curso. O presidente em exercício
do STF, ministro Ricardo Lewandowski, ao negar a
liminar, justificou a decisão com a afirmação
de que “não é dado ao Judiciário,
como regra, proceder à avaliação
do mérito de políticas públicas,
especialmente no tocante ao reexame dos critérios
de sua oportunidade e conveniência”,
que são objeto de decisões de cunho
político.
Além do Mandado de Segurança, será
julgada pela Justiça Federal a segunda ação
(civil pública) contra o programa Mais Médicos
impetrada pela AMB na última quinta-feira
(25), bem como as outras ações das
demais entidades médicas.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação
Nacional dos Médicos (Fenam) também
recorreram à Justiça para impedir
a implementação do Mais Médicos.
O caso será novamente analisado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), onde também tramita
mandado de segurança do deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ). Na ação, o parlamentar igualmente
questiona o cumprimento dos critérios de
relevância e urgência exigidos pela
Constituição para a apresentação
de MPs.
O mandado de segurança pede concessão
de liminar para suspender a eficácia da medida
provisória.