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02.09.2013

Na Venezuela, acordo com Cuba foi negativo, avaliam especialistas

fonte: O Globo

Sob a gestão de Hugo Chávez, há dez anos, a Venezuela importou cerca de 20 mil médicos cubanos para atuar em regiões pobres, como parte das missões bolivarianas (programas sociais chavistas). Analistas locais afirmam que essas missões explicam, em grande medida, as vitórias eleitorais esmagadoras de Chávez em 2004 e 2006.

No entanto, na visão de especialistas venezuelanos, o êxito político não se traduziu em melhoras estruturais no sistema de Saúde. Pelo contrário. Importantes médicos do país ouvidos pelo GLOBO fizeram um balanço negativo da experiência e destacaram a falta de preparação dos profissionais, graves denúncias de má prática e condições desumanas de trabalho que, em alguns casos, levaram à fuga de cubanos.

Atualmente, de acordo com o governo venezuelano, o programa conta com mais de seis mil consultórios médicos, três mil odontológicos e 559 centros de diagnóstico integral, os modernos CDIs. O Palácio Miraflores afirma que as críticas fazem parte de um “plano da oligarquia para acabar com tudo o que foi feito por Chávez” e defende com unhas e dentes a experiência dos médicos cubanos, apesar dos questionamentos de acadêmicos e até mesmo da Federação Venezuelana de Medicina.

Segundo o presidente da federação, Douglas Léon Natera, dos seis mil módulos de assistência médica construídos pelos cubanos, somente 20% seguem em funcionamento. Ele relatou alguns exemplos de mau exercício da função, como o de um rapaz de 18 anos que teria chegado a um dos módulos do Barrio Adentro com 41 graus de febre. A mãe disse que ele era alérgico a dipirona. No entanto, o médico cubano teria dito que primeiro trataria a febre e injetou dipirona. Cinco minutos depois, o rapaz estava morto por choque anafilático.

— No dia seguinte, o cubano não estava mais lá — diz Natera.

Um dos casos mais escandalosos e de grande repercussão na mídia local foi o da jovem Leomary Andara Romero, que disse ter sido mal atendida pelo médico cubano Pedro Pablo López, numa cirurgia para extrair três dentes. Segundo Leomary e sua família, López cometeu vários erros e terminou provocando uma gravíssima hemorragia. A jovem teve de ser levada de avião da região de Trujillo para Caracas, onde foi tratada de urgência.

No documento “A grande fraude no Sistema de Saúde durante o regime chavista”, José Félix Oletta López, ex-ministro da Saúde e atual professor da Escola de Medicina Vargas e da Universidade Central da Venezuela (UCV), afirma que a ida dos cubanos não melhorou indicadores de Saúde.

— Não houve mecanismo de auditoria independente e transparente para avaliar os resultados desse programa. Não sabemos sequer se todos eram médicos, quantos vieram, nunca vimos um diploma. Em 2009, o próprio Chávez admitiu que 50% dos consultórios populares não estavam funcionando direito. A meta era ter 17 milhões de venezuelanos atendidos, mas não se chegou nem à metade — diz López.

Ele mencionou alguns indicadores que confirmam a deterioração do sistema de Saúde venezuelano nos últimos anos. Em 1998, o país registrava 51 mães falecidas para cada 100 mil crianças nascidas; em 2010, o número subiu para 69,3. Até 1998, a mortalidade infantil era de 13 bebês para cada mil nascidos vivos; hoje, é de 15,1. A presença dos cubanos, disse López, não ajudou a melhorar a saúde materno-infantil.

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