Além
de apresentar requerimentos para tentar adiar e protelar
a votação o DEM e os ruralistas ainda
tentaram aprovar o texto original da MP em vez do
projeto de lei de conversão do relator da matéria,
deputado Rogério Carvalho (PT-SE). Mas, foram
derrotados por 270 contra e apenas 11 a favor, entre
eles o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO). Nos
discursos feitos pelos líderes, além
das críticas ao programa Mais Médicos,
houve críticas à não instalação
da PEC 215, que transfere do Executivo para o Legislativo
a competência para demarcação
das terras indígenas.
Embora a MP só perca da vigência
no dia 5 de novembro, o governo tem pressa em aprovar
o texto modificado da MP nas duas Casas do Congresso.
Isso porque o texto original foi modificado na votação
da comissão especial, permitindo que o registro
para que os médicos formados no exterior, brasileiros
ou não, possam trabalhar no Mais Médicos
será concedido pelo Ministério da Saúde
e não pelos conselhos de medicina.
O Conselho Federal de Medicina (CFM)
fechou na terça-feira um acordo com líderes
governistas e o deputado Rogério Carvalho (PT-SE),
relator da medida provisória (MP) que institui
o programa. O relator se comprometeu a fazer algumas
alterações no texto para agradar às
entidades médicas, mas manteve intacta a parte
do projeto que remete ao Ministério da Saúde
a concessão de registro para os profissionais
formados no exterior. Em troca, os governistas aceitaram
criar futuramente, por meio de outra proposta, uma
carreira específica para a categoria, o que
vai ajudar a fixar profissionais nas áreas
onde faltam médicos.
Apesar do acordo, o CFM ficou isolado.
As outras entidades médicas, como a Federação
Nacional dos Médicos (Fenam) e a Associação
Médica Brasileira (AMB), não ratificaram
o acordo, por entender que os ganhos foram mínimos.
E a oposição, auxiliada pela bancada
ruralista, fez obstrução na sessão
de terça à noite, atrasando a votação
da MP.
O relator explicou que o acordo com
o CFM não inclui na MP a criação
de uma carreira federal para os médicos, uma
antiga demanda da categoria. Isso seria possível
apenas por meio de uma proposta encaminhada pelo Executivo.
O relator informou que apenas inseriu a previsão
de que, no futuro, quem quiser participar do programa
terá que pertencer a uma carreira específica.
Para o CFM, embora pouco, isso é mais do que
a situação atual, em que a categoria
não tem nenhuma indicação para
a criação de uma carreira em nível
nacional.
— A medida provisória
fala de provimento, é diferente de carreira.
As vagas do programa X serão preenchidas por
profissionais integrantes de uma carreira específica.
A gente tá definindo que, no futuro, os profissionais
brasileiros, para trabalhar nesse programa, têm
que pertencer a uma carreira — explicou Rogério
Carvalho.
Parte da oposição também
não ficou satisfeita com o acordo. O DEM decidiu
obstruir a votação da MP, manobra que
foi seguida por PSD, PSDB, PPS, PROS e Solidariedade
na sessão de ontem à noite. Além
dos parlamentares contrários ao Mais Médicos,
fizeram obstrução deputados da bancada
ruralista que querem a instalação da
comissão especial de uma proposta de emenda
constitucional (PEC) que dá ao Congresso a
última palavra para as demarcações
de terras indígenas. Ruralistas e o líder
do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP), que é
contrário à PEC, quase chegaram às
vias de fato e por pouco não se enfrentaram
fisicamente no corredor do plenário da Câmara.
A sessão chegou a ser interrompida.
No acordo com o CFM, o relator também
concordou em excluir do texto a criação
de um fórum de caráter consultivo para
assessorar o ministério nas políticas
de recursos humanos na área da saúde.
Para o Conselho, isso daria poderes excessivos ao
Ministério da Saúde na hora de tomar
decisões sobre as carreiras na área
da saúde. O CFM, por sua vez, desistiu de tirar
do Ministério da Saúde a prerrogativa
de conceder o registro profissional aos médicos
formados no exterior participantes do programa e devolvê-la
aos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs).
O líder do DEM, Ronaldo Caiado
(GO), atacou o relator Rogério Carvalho, dizendo
que ele não tem o poder de fechar acordo neste
momento com o CFM. Caiado destacou que são
os 513 deputados no plenário que decidem o
que fica e o que sai do texto. Ele afirmou ainda que
iria trabalhar para retomar a discussão do
texto anterior, antes das alterações
propostas no relatório de Carvalho. O deputado
também é contrário a vários
pontos do texto original, mas o vê como um mal
menor.
— Então, para trabalhar
pelo mal menor, vamos recuperar o texto original e
retirar apenas o segundo ciclo (período de
dois anos que os médicos teriam que trabalhar
obrigatoriamente no Sistema Único de Saúde
para obter o diploma) —disse Caiado, acrescentando:
—O texto do relator, se aprovado, vocês
vão ver a consequência disso daqui a
alguns anos. Desconstrói tudo aquilo que a
medicina brasileira conseguiu no decorrer desses últimos
100 anos.
Antes da votação, o
líder do PT, José Guimarães (CE),
ironizou a obstrução anunciada pelo
DEM.
— Nós vamos votar a
MP com acordo, com ou sem obstrução.
É uma matéria importante e vamos vencer,
porque essa matéria interessa ao país.
Negociamos tudo que era possível e agora vamos
votar - afirmou Guimarães, acrescentando: —
Por incrível que pareça, a negociação
evoluiu com as entidades (médicas) e travou
com o DEM.
Em meio à tensão da
votação, deputados da bancada ruralista
e o líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente
(SP) quase chegaram às vias de fato e se enfrentaram
fisicamente no corredor do plenário da Câmara
dos Deputados na noite de terça-feira. O mote
da briga foi a discussão em torno da instalação
da comissão especial que discutirá o
mérito da PEC 215, que transfere para o Congresso
o poder de demarcação de terras indígenas.
Os deputados Luís Carlos Heinze (PP-RS), Alceu
Moreira (PMDB-RS) e Ivan Valente só não
trocaram tapas porque foram contidos pelos demais
colegas. Mas houve bate-boca e insultos de lado a
lado.
As articulações para
a votação da MP começaram pela
manhã, quando os ministros Alexandre Padilha
(Saúde) e Ideli Salvatti (Relações
Institucionais) se reuniram com líderes da
base aliada na Câmara. A intenção
do governo é que, após a aprovação
na Câmara, o Senado possa votar a matéria
já na semana que vem. A MP precisa ser aprovada
pelo Congresso até o dia 5 de novembro, ou
então perde validade.
De acordo com o governo, muitos conselhos de saúde
estão demorando ou não estão
concedendo o registro para que os médicos possam
trabalhar. Permitir que o próprio Ministério
da Saúde conceda o registro foi a solução
encontrada pelo governo. Ideli afirmou que a decisão
de permitir que o registro seja dado pelo ministério
não comprometerá o atendimento, pois
a fiscalização continuará sendo
feita pelos CRMs. Padilha foi na mesma linha. |