O corte
foi publicado no Diário Oficial esta semana
e fez parte de uma mudança no orçamento
da prefeitura para a criação de um crédito
suplementar de R$ 581 milhões. Desse total,
37% eram da Saúde, a mais atingida.
Levantamento de João de Oliveira,
assessor do vereador Paulo Pinheiro (Psol), aponta
cortes também nos quatro grandes hospitais
municipais (Souza Aguiar, Lourenço Jorge, Salgado
Filho e Miguel Couto). Eles perderam, em média,
R$ 2,6 milhões. O mais afetado foi o Souza
Aguiar: R$ 2,87 milhões. No orçamento
de 2014, eles haviam perdido, em média, R$
9,38 milhões.
“O planejamento estava errado?
Porque a inflação foi 5,91%. Houve aumento
de 6% nos salários. Então, quer dizer,
os insumos básicos não vão custar
mais ? Os contratos de limpeza e manutenção
não vão ficar mais caros? Ou as empresas
são filantrópicas?”, questiona
o vereador, da Comissão de Saúde.
Ao mesmo tempo, também na
última semana, o Conselho Regional de Medicina
do Rio divulgou imagens dramáticas feitas por
profissionais do Salgado Filho. Um paciente aparece
entubado sobre um balcão. Já no Souza
Aguiar, o CTI Pediátrico foi fechado para obras.
Mas, com seis leitos, continua equipado e preparado
para atendimentos. Os profissionais dizem que há
falta de médicos no setor.
O Cremerj denunciou a situação
dos hospitais ao Ministério Público.
“A maior carência é de profissionais.
O corte vai piorar a situação quando
os recursos eram ainda mais necessários. As
unidades básicas evitam que as emergências
fiquem lotadas. Desse jeito, as pessoas vão
seguir sobrecarregando os hospitais”, observa
Sidnei Ferreira, presidente do Cremerj.
De 2013 para 2014, redução
chega a R$ 456 milhões
O corte nas verbas da Secretaria
de Saúde está ocorrendo desde o ano
passado. De 2013 para 2014, houve redução
de R$ 456 milhões no orçamento da secretaria.
No ano passado, foram previstos R$ 4,58 bilhões,
mas a prefeitura gastou apenas R$ 3,96 bilhões.
Para este ano, o orçamento ficou em R$ 4,13
bilhões.
Nos últimos dois orçamentos,
os quatro grandes hospitais também perderam,
em média, R$ 9,38 milhões. E a situação
difícil dos hospitais pode piorar em 2014.
Os programas de Atenção Hospitalar e
Reestruturação do Atendimento de Urgência
e Emergência perderam, juntos, no corte desta
semana outros R$ 43,35 milhões.
Na ponta, quem precisa de atendimento
sofre. Na emergência do Salgado Filho, o cenário
era desolador na quinta-feira, quando a reportagem
esteve na recepção do hospital. O mau
cheiro predominava no ambiente. O funcionário
público Adonias Machado, 49 anos, esperava,
preocupado, por notícias da sogra. Aos 87 anos,
a idosa sofre de mal de Alzheimer em estágio
avançado e tem dificuldades para se alimentar.
Machado contou que ela já aguardava há
dois dias por uma cirurgia para a colocação
de uma sonda. “Os médicos dizem que não
há previsão de quando será possível
fazer a cirurgia. Ela vai morrer se não puder
se alimentar pela sonda”, afirmou o funcionário.
Prefeitura alega que verbas
estão retidas
Procurada para esclarecer as mudanças
no orçamento da Secretaria de Saúde,
a prefeitura informa que todos os programas estão
mantidos. Segundo nota enviada pelo gabinete do prefeito
Eduardo Paes, os recursos para novas Clínicas
da Família não foram cortados, mas retidos
e serão liberados conforme o cronograma dos
projetos. Estão previstas nove unidades para
2014.
A prefeitura informou ainda que destinou
para a Saúde R$ 170 milhões acima dos
gastos de 2013. “Depois de um período
de expansão tão grande, esses dois primeiros
anos seriam no sentido de afinar a rede a consumir
recursos de maneira mais eficiente”, explicou
o secretário municipal de Saúde, Hans
Dohmann.
A secretaria informou que o Salgado
Filho sofre sobrecarga por causa da greve dos hospitais
federais, mas será o próximo a receber
as melhorias. A Secretaria Municipal de Fazenda explicou
que o crédito de R$ 581 milhões funciona
como “reserva de contingência”,
não direcionada a nenhum órgão
diretamente, mas que possibilitará a liberação
na medida da entrada de receitas e das necessidades.
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