fonte: O Globo

Pesquisa conduzida pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGVEaesp) e divulgada ontem pela Agência Bori concluiu que apenas 15% dos profissionais de saúde se sentem preparados para lidar com o novo coronavírus, enquanto ampla maioria não se vê com preparo para encarar os desafios da pandemia. O principal fator indicado é o medo pela vulnerabilidade de quem atua na linha de frente.

O trabalho, coordenado pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da FGV-Eaesp, analisou as respostas de 1.456 profissionais de todos os níveis de atenção e regiões do Brasil na última quinzena de abril, por meio de aplicação de um formulário eletrônico.

Dos profissionais que responderam, 79% são mulheres, 19,6% homens e cerca de 1% não informou o gênero.

Nesse conjunto, o medo foi relatado por 91,25% dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate a endemias. Entre eles, apenas 7,61% disseram se sentir preparados. Entre enfermeiros, esse índice ainda é consideravelmente baixo: 20,09%.

Entre médicos, 77,68% relataram sentir medo e vulnerabilidade pelo contato constante com pacientes. Os pesquisadores identificaram ainda uma fragilidade particular nos estados das regiões Norte e Nordeste.

A falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) ajuda a explicar a sensação de vulnerabilidade. Apenas 32% dos profissionais relataram o recebimento de EPIs. Esse número é menor entre agentes comunitários e de combate: 19,65%.

— Os EPIs são, obviamente, uma condição básica para o trabalho na saúde. Sabemos que o Brasil atrasou muito na aquisição desses equipamentos — diz Gabriela Lotta, professora da FGV e coordenadora do Núcleo de Estudos da Burocracia.

Gabriela lembra que os EPIs não chegaram a muitos profissionais mesmo depois da normalização dos estoques.

SUPORTE E MUDANÇAS

O estudo da FGV-SP também concluiu que parte expressiva dos profissionais não recebeu treinamento voltado para o contexto pandêmico. Apenas 21,91% afirmaram ter recebido orientações específicas, a maior parte médicos. Além disso, 67% afirmaram não encontrar suporte por parte do governo federal. Já em relação aos Executivos estaduais, esse sentimento foi manifestado por 51% dos profissionais.

A falta de preparo se destaca entre os entrevistados das regiões Norte e Nordeste. O Sudeste, primeira região a ser atingida pela Covid-19 e onde estão as maiores fatias de investimentos no combate à pandemia, tem melhores resultados no quesito.

— Fica muito evidente que as regiões Norte e Nordeste estão em piores condições que todas as outras. Há uma desigualdade em todos os aspectos avaliados, de acordo com a capacidade dos estados. Há uma distribuição desigual de médicos, leitos de UTI e equipamentos no Brasil. No momento de pandemia, essas desigualdades acumuladas explodem — avalia a professora da FGV.

Outro aspecto destacado pelo estudo é a forma como a Covid-19 mudou a rotina de trabalho: 88% dos profissionais afirmaram ter mudado a forma de contato com os pacientes. Destes, grande parte cita o distanciamento físico. E 75% disseram ter alterado procedimentos de trabalho.