Caros diretores e atores:

Em nome da CIPERJ (Associação de Cirurgia Pediátrica do Estado do Rio de Janeiro) gostaríamos, antes de mais nada, parabenizá-los e, porque não, agradecer-lhes, pela série SOB PRESSÃO. É um alívio ver uma série televisiva feita com tanto cuidado e com atores de tanta qualidade mostrando de forma um pouco mais justa a realidade dos médicos trabalhando nos serviços de emergência do Rio de Janeiro.

Nós, médicos, estávamos precisando disso, de uma chance da comunidade refletir sobre as nossas dificuldades, de uma chance de fazer as pessoas nos verem como gente trabalhando sob uma responsabilidade enorme e em condições de trabalho extremamente difíceis.

Gostaríamos de argumentar a respeito de um diálogo entre dois dos personagens em um dos episódios. Nesta cena o cirurgião-chefe designa uma cirurgia de emergência numa criança baleada a um cirurgião mais novo. Este diz, inseguro, que nunca operou crianças antes. A resposta que ele recebe e que “é menor, mas igual”. Não entramos no mérito da situação no roteiro: em um momento de urgência absoluta qualquer paciente tem que ser atendido por aquele profissional que apresentar melhor treinamento para tal, e naquela situação estava absolutamente correto que a criança fosse operada por um cirurgião não-especialista. No entanto, e essencial para a CIPERJ mostrar que crianças não são “menores mais iguais”. Embora a anatomia seja, claro, a mesma, as respostas orgânicas a cirurgia não o são. A imaturidade fisiológica e a vigência de um processo de crescimento exigem conhecimentos específicos do profissional que opera pacientes pediátricos. Só como um exemplo, suturas em crianças exigem técnicas especiais, porque materiais sintéticos não crescem a medida que a criança cresce. Por causa disso, existem especialistas (cirurgiões pediátricos) que têm 3 anos de treinamento além do treinamento de um cirurgião geral para se tornarem aptos a tratarem doenças cirúrgicas em crianças.

Crianças não são adultos pequenos.

Sabemos que a dramaturgia tem suas próprias liberdades, mas para nós é muito importante reconhecer e reafirmar a especificidade do que fazemos.

Grande abraço

DIRETORIA CIPERJ

RESPOSTA DA REDE GLOBO

Ciperj,

Agradecemos sua mensagem e informamos que suas considerações serão encaminhadas à equipe da novela.

Ressaltamos que  novelas são obras de ficção, sem compromisso com a realidade. A Rede Globo não interfere no trabalho dos autores, nem orienta o conteúdo de suas obras. Como era de se esperar numa sociedade livre e numa empresa com nossa visibilidade, eles têm liberdade de criar e dar rumo aos seus personagens conforme sua vontade.

Cordialmente,

Globo.