fonte: O Globo | Editorial

Pelo menos cinco pacientes morreram em consequência do incêndio na Coordenação de Emergência Regional (CER), ao lado do Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na tarde de sábado. Quatro deles não resistiram à transferência para outra unidade. O quinto teria inalado muita fumaça.

A prefeitura informou que eles estavam em estado grave. Mas não se pode achar natural que pacientes internados num hospital do município, sob cuidados intensivos, venham a morrer em decorrência de problemas que nada têm a ver com os motivos que os levaram à emergência.

Nesse caso, culpar o imponderável é um grande equívoco. De fato, incêndios acontecem sem aviso prévio. Mas, por isso, existem sistemas contra fogo e protocolos a serem seguidos. Não evitam tragédias, é óbvio. Mas costumam reduzir danos. As causas das chamas que consumiram o segundo andar da CER, onde funcionava o setor administrativo, ainda estão sendo apuradas — funcionários falam de um possível curto-circuito. Mas, pelo que se pôde observar, em que pese o esforço de profissionais de saúde para transferir os 54 pacientes que estavam nas salas amarela e vermelha, o único protocolo posto em prática foi o do “salve-se quem puder”.

O próprio prefeito Marcelo Crivella admitiu que os hospitais da prefeitura não contam com equipamentos anti-incêndio, como os sprinklers (chuveirinhos). A CER da Barra não tinha sequer brigada.

Independentemente das causas do incêndio, a tragédia acrescenta mais um capítulo à grave crise vivida pela saúde do Rio. Ao site G1, um funcionário da unidade desabafou: “Aqui está todo mundo com salários atrasados, o hospital sem manutenção”. Segundo ele, o tomógrafo do Lourenço Jorge ficou quebrado por mais de um ano.

Recentemente, reportagem do GLOBO mostrou o colapso na administração do Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, uma das regiões da cidade com mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Segundo levantamento feito pelo Ministério Público estadual no mês passado, havia 341 leitos fechados em nove hospitais do município. Para se ter uma dimensão do problema, basta dizer que esse número equivale à capacidade de uma unidade de grande porte, como o Souza Aguiar, no Centro. O efeito direto é a superlotação das emergências.

O esvaziamento do Programa Saúde da Família também tem contribuído para deteriorar o sistema. No fim do mês passado, a prefeitura anunciou o corte de 184 equipes, dentro de um plano de reestruturação da atenção básica. De acordo com especialistas, as reduções na prevenção certamente vão impactar as emergências.

A crise na saúde não é resultado apenas da escassez de verbas. Mas também de falhas de gestão na aplicação dos recursos. E, nesse cenário, não falta combustível para alimentar incêndios como o da CER na Barra.