Aqui no Brasil a divulgação da técnica Símil-EXIT, indicada para o tratamento das gastrosquises, tomou vulto no mês passado, quando dois recém-nascidos foram operados utilizando este recurso. Observando a discussão e o grande interesse despertado pelo novo procedimento contatamos o idealizador da técnica, Dr. Javier Svetliza, cirurgião argentino. Ele estará no Brasil em outubro, quando participará do Curso de Malformações da Parede Abdominal do XXX Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica, em São Paulo. Buscamos novas informações e esclarecimentos sobre a técnica, que surgiu há quase uma década:
“Em junho de 2005, estive atendendo uma paciente grávida, portando um bebê diagnosticado com gastrosquise. Pesquisando casos e resultados de outros pacientes com esta doença constatei que o diagnóstico pré-natal, por si só, não melhorou o prognóstico ou resultado nessas crianças. Partindo do princípio de que devíamos evitar danos intestinais na criança, pesquisei todas as variáveis e constatei deveríamos idealmente realizar a terapêutica das gastrosquises antes que ocorressem danos ao intestino do paciente. Nunca havia pensado em técnicas EXIT até este momento. A ideia original era interromper a gravidez antes do dano intestinal e introduzir o intestino no minuto zero de vida, antes da criança engolir ar, aproveitando o breve período do cordão não ligado e funcionante”, disse.
Dr. Javier ainda falou sobre como foi a preparação das equipes médicas quando realizou os primeiros procedimentos com a Simil-EXIT:
“Os marcadores de início de dano intestinal eram muito pobres em 2005 e foi acordado com os neonatologistas não interromper a gravidez antes das 34 semanas de gestação, salvo por alguma razão obstétrica. O processo mais longo foi a integração com os anestesiologistas, por causa dos primeiros casos, onde não usamos qualquer droga adicional: o único analgésico foi anestesia local aplicada para fechar o anel da gastrosquise. A partir daí começamos a estudar a questão de como resolver a dor no bebê, difícil de quantificar, com os anestesistas”, falou.
O cirurgião argentino ainda destacou o trabalho de profissionais de outra especialidade para o êxito da técnica:
“Com nove anos de experiência com a Símil-EXIT, acho que a tarefa mais difícil é do médico neonatologista, que deve mudar radicalmente a sua forma de receber um recém-nascido, tendo muito pouco tempo para colocar o oxímetro de pulso, monitorar a via aérea e aspirar secreções de vias aéreas, tudo isso sobre as coxas da mãe, enquanto os cirurgiões reduzem o intestino e os obstetras esperam com o útero aberto”, concluiu.
De acordo com Dr. Javier ele já participou – operando, auxiliando ou supervisionando – de cerca de 50 procedimentos com a Símil-EXIT e mais de 300 pacientes já foram beneficiados, em todo o mundo, com sua técnica.
A 3ª edição da Revista CIPERJ, prevista para novembro, mostrará a entrevista com o Dr. Javier Svetliza na íntegra.
Caso queira participar do Curso de Malformações da Parede Abdominal, basta se inscrever no curso, que fará parte do XXX Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica, através do site do evento.
Dr. Javier Svetliza é especialista em Cirurgia Pediátrica, chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital Dr. José Penna, em Bahía Blanca, na Argentina e diretor do Fetalgroup (www.fetalgroup.org).