A CIPERJ vem acompanhando com grande preocupação algumas propostas de intervenção mínima perinatal, colocadas sob o conjunto de regulações propostas para a assistência ao parto no país e fortemente influenciadas pelo debate sobre humanização do parto no Brasil.

Reconhecemos ser este debate muito necessário e, obviamente, lutamos pelo direito ao respeito, cuidado correto e autonomia das gestantes e neonatos, como médicos e como cidadãos, mas não podemos deixar de perceber que muitas nuances políticas e ideológicas permeiam neste momento a questão.

Um dos desdobramentos das propostas de humanização do parto é a abolição do cateterismo esofágico para verificar a perviedade das vias digestivas do neonato. Este ato, bastante rápido e inócuo, serve para verificar a ausência de atresia do esôfago, uma doença caracterizada por uma obstrução congênita do esôfago que incide em 1:2500 recém-nascidos, o que, considerando uma taxa em torno de 200000 nascimentos anuais no Estado do Rio de Janeiro, corresponde a cerca de 80 casos/ano em nosso estado. Esta doença quando não diagnosticada leva à aspiração de alimentos para os pulmões, determinando asfixia e pneumonia grave assim que a criança é amamentada, o que atualmente ocorre já na primeira hora de vida.

A taxa de sobrevida atual para neonatos portadores de atresia de esôfago nos países desenvolvidos é maior do que 90%. Mas é bastante menor nos bebês que adquirem pneumonia por aspiração em virtude da doença, que não tem ainda taxas satisfatórias de diagnóstico pré-natal através de exames rotineiros de ultrasom.

O custo de diagnosticar atresias de esôfago imediatamente ao nascer e não correr o risco de permitir pneumonias de aspiração ao alimentar o bebê é um ato inócuo de 5 segundos que não causa dor, ainda que não seja agradável à criança.

Cada um desses 80 bebês, que podem ser filhos de cada um de nós, agradeceria a proteção, se soubesse.

ASSOCIAÇÃO DE CIRURGIA PEDIÁTRICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO