fonte: O Globo
Um levantamento feito pela Defensoria Pública da União sobre os seis hospitais gerais federais do Rio revela que a saúde fluminense pede socorro. Os dados mostram que há um déficit de 1.226 médicos — ou seja, 28% do quadro necessário de 4.354 profissionais. O defensor público Daniel Macedo, que apresentou o trabalho nesta quarta-feira, ressaltou que a situação é ainda mais grave porque, entre 2010 e 2013, o Estado do Rio perdeu 4.621 leitos em toda a rede pública.
O último concurso público para contratar médicos para as unidades federais foi realizado em 2010, e não existe previsão para um próximo, diz o levantamento. O salário-base pago a um médico é de R$ 2.200, de acordo com o Sindicato dos Médicos do Rio. Segundo Júlio Noronha, diretor da entidade, as especialidades com mais carência de profissionais são anestesia, pediatria especializada, anatomia patológica e clínica de pronto-socorro.
— Em 40 dias, 22 clínicos pediram demissão do Hospital de Bonsucesso. Eles trabalhavam na emergência. Eram médicos que recebiam muito pouco e tinham cada vez mais gente para atender. Pagando mal desse jeito, não há como fixar os profissionais — disse Noronha.
BONSUCESSO E ANDARAÍ: OS PIORES
Daniel Macedo disse que, na rede federal, os problemas mais graves foram encontrados nos hospitais de Bonsucesso e do Andaraí. Também foram avaliados os hospitais dos Servidores, Cardoso Fontes, de Ipanema e da Lagoa. Além da falta de médicos, a defensoria verificou que insumos e medicamentos estão escassos. Outro problema é que pacientes são atendidos nos corredores e até no chão.
— Os hospitais federais do Rio estão sucateados — disse o defensor.
De acordo com o levantamento, existem hoje 13.851 pessoas na fila por uma cirurgia nos seis hospitais federais avaliados. Daniel Macedo disse que, no Hospital de Bonsucesso, desde novembro de 2012 as obras no setor de emergência estão paradas. Em 2011, foram instalados no local três contêineres para a emergência funcionar. Era para ser uma solução provisória, mas eles continuam sendo usados.
A Defensoria Pública informou que o aluguel dos contêineres custa, no total, R$ 318 mil por mês, o que, de 2011 até hoje, soma cerca de R$ 13 milhões. Cada unidade teria capacidade para atender por dia 30 pessoas. Mas, de acordo com o levantamento, são atendidas de 65 a 80. Segundo Daniel Macedo, a obra na emergência custaria R$ 8 milhões aos cofres públicos.
— O Hospital de Bonsucesso recebe R$ 160 milhões da União por ano. Por que as obras da emergência não foram concluídas? Pacientes são atendidos em cadeiras, não há leitos — afirmou o defensor, acrescentando que uma denúncia sobre a situação do hospital foi encaminhada à Polícia Federal.
De maio de 2013 a setembro deste ano, 187 transplantes renais foram feitos no Hospital de Bonsucesso. Já a área de transplante hepático segue fechada, e os pacientes estão sendo transferidos para outras unidades, até mesmo particulares.
UMA HORA SÓ PARA OBTER INFORMAÇÃO
Quem precisa dos serviços do hospital sofre. A dona de casa Quitéria Morais da Costa, de 62 anos, prestou socorro nesta quarta-feira ao mecânico Jorge Maximiniano, de 75, seu vizinho, que tem problemas na próstata. Com dores e precisando de atendimento, o paciente esperou mais de uma hora na porta da emergência do Hospital de Bonsucesso só para conseguir uma informação.
— Ninguém fala nada direito. Viemos de Jardim Metrópole, em São João de Meriti. Não vou deixar meu vizinho aqui sozinho. Estamos esperando há mais de uma hora. Disseram para a gente que ele não vai poder ser atendido aqui, porque a emergência está cheia demais e os médicos estão sobrecarregados. Estão pedindo que ele seja levado para o Hospital Souza Aguiar — contou a dona de casa.
Também avaliado como uma das piores unidades federais do Rio, o Hospital do Andaraí ficou sem diretor por dois meses e recebe R$ 100 milhões da União por ano. De acordo com a Defensoria Pública, foi pedida à Vigilância Sanitária uma avaliação das condições de higiene e funcionamento da unidade no início deste ano. Dos oito elevadores do hospital, cinco estão parados. Nos outros, são transportados, às vezes ao mesmo tempo, pacientes, alimentos, remédios, lixo e cadáveres.

Já a Secretaria municipal de Saúde informou que houve aumento do total de leitos. Atualmente, de acordo com o órgão, a rede da prefeitura conta com 5.011 leitos, dos quais 1.141 foram abertos na atual gestão. A secretaria informou ainda que é a responsável pela Central de Regulação de Leitos, o órgão que determina para onde os pacientes devem ser transferidos depois do atendimento feito na UPA. No entanto, se os leitos de UTI estiverem ocupados, não há o que ser feito.
Também em nota, o governo do estado disse que sua rede tem 1.058 leitos de UTI. O número representa, afirma o texto, quase quatro vezes o total — 260 — existente no início da atual gestão. Já a Central Estadual de Regulação, segundo o estado, tem à sua disposição apenas leitos próprios e contratados para encaminhar os pacientes destinados à UTI. O governo admite a dificuldade de conseguir leitos de terapia intensiva para todos os pacientes.