fonte: O Globo
Um ano após a resolução nº 585 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que autoriza o farmacêutico a prescrever medicamentos que não precisam de receita (como analgésicos e antitérmicos), uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação no Mercado Farmacêutico (ICTQ) realizada este ano mostrou que 43,5% da população brasileira deixa de ir ao médico para consumir remédios indicados na farmácia. No Rio, este índice chega a 89%.
– Nas regiões onde a população é grande há uma diferença gritante da média do Brasil, por que há um maior congestionamento do sistema de saúde – afirma o diretor de pesquisa do ICTQ, Marcus Vinicius de Andrade. – Apesar de o número de hospitais ser maior do que em cidades da região Nordeste, por exemplo, a população das grandes metrópoles já está mais consciente de que o hospital não pode atendê-la.
Para o levantamento, foram entrevistadas 2.548 pessoas em 16 capitais brasileiras de todas as regiões do país. Com 59%, Brasília ficou em segundo lugar e, em seguida, empatados (56%), estão São Paulo e Goiânia. Segundo Andrade, os cariocas estão em busca de uma ajuda mais imediata, o que acaba induzindo o consumo a partir da prescrição farmacêutica como uma solução paliativa. Mas ele ressalta a importância de consultar um especialista para obter o diagnóstico.
– Quem ganha é o paciente, uma vez que estamos evitando a automedicação. Antigamente o paciente tinha preguiça de tentar ir ao hospital, pegava o analgésico sem nenhuma indicação profissional e tomava – observa Andrade.
Por lei, o farmacêutico é responsável por todo medicamento que sai da farmácia. Ou seja, é importante que se tenha uma prescrição formalizada – até quando usar o remédio, como usar, que especialistas buscar caso as dores persistam.
CREMERJ CRITICA ‘EMPURROTERAPIA’ E FATOR BALCONISTA
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Sidnei Ferreira, concorda que a sobrecarga, a demora e a falta de recursos humanos no sistema público de saúde são estímulos para o doente buscar a automedicação ou a farmácia. No entanto, ele apresentou o problema que definiu como “fator balconista”.
– O balconista vende medicações por interesse próprio, fazendo o que a gente chama de “empurroterapia”. Ele não tem capacidade para avaliar o paciente. Para não esperar, o paciente aceita – explicou.
Sobre essa questão, Andrade afirma que a dificuldade de identificação do farmacêutico pode, sim, gerar uma desconfiança da população no profissional. De acordo com a pesquisa, o Rio fica atrás somente de João Pessoa (55%) entre as capitais cuja população menos confia na prescrição farmacêutica, com 52%. Uma vez que não se consegue localizar o farmacêutico, o paciente conversa com o balconista, que não tem conhecimento de qual é o melhor medicamento.
– É preciso criar um consultório farmacêutico, diferenciar o profissional com um uniforme ou crachá. Criar um espaço para um atendimento clínico – sugere o diretor de pesquisa do ICTQ.
Embora a nova lei federal 13.021 de 11 de agosto deste ano determine a presença integral de um farmacêutico nas drogarias em todo o país, durante todo o horário de funcionamento, muitas vezes, segundo Andrade, o farmacêutico fica apenas cadastrando no sistema da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) todo remédio de tarja preta e de tarja vermelha que sai da farmácia com as devidas receitas médicas e, neste caso, não presta atendimento ao consumidor.