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Congresso da CIPE aborda a técnica Simil-EXIT, que vem revolucionando o tratamento de gastrosquise. O Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, será palco dos quatros congressos científicos da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE) na comemoração do Jubileu de Ouro da entidade, que terá o mote “Celebrar o Passado e Conquistar o Futuro”. O evento, que acontece de 27 a 31 de outubro de 2014, celebra também os 40 anos da World Federation of Associations of Pediatric Surgeons (WOFAPS).

Especialistas nacionais e internacionais estarão reunidos para os principais eventos da área: o VI Congresso Ibero-Americano de Cirurgia Pediátrica, XXXII Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica, XVII Congresso Brasileiro de Urologia Pediátrica, IV Congresso Brasileiro de Cirurgia Pediátrica Vídeoassistida, V Jornada Luso Brasileira de Cirurgia Pediátrica e IV Jornada Brasileira de Transplante de Órgãos em Pediatria.

Simil-EXIT
Um dos temas de destaque, aliás, objeto de um curso especial durante o congresso, será uma técnica que vem revolucionando o tratamento de gastrosquise. Em 2014, dois recém-nascidos brasileiros portadores de gastrosquise foram tratados por um novo procedimento cirúrgico: a técnica Símil-EXIT, idealizada pelo cirurgião argentino Javier Svetliza. A primeira cirurgia utilizando o método no país foi realizada na Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Neto, em Salvador, na Bahia; e a segunda no Hospital da Criança e Maternidade (HCM), de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
De acordo com estudo publicado no American Journal of Medical Genetics, a incidência da gastrosquise vem aumentando nas últimas décadas em diversas populações, variando de 1 a 2 até 4 a 5 casos a cada 10 mil nascidos vivos. Essa condição é detectável durante o pré-natal, bastando realizar o exame ultrassonográfico a partir do terceiro mês de gestação.
Segundo o idealizador, Javier Svetliza, que já participou de 50 cirurgias utilizando o método, a Símil-EXIT surgiu da necessidade de controlar as variáveis que poderiam atentar contra a alimentação enteral precoce, além de minimizar o dano intestinal. “A técnica foi criada com o objetivo de conseguir a redução no primeiro minuto de vida, antes que recém-nascido engula ar, e sem a necessidade de seu intestino ser tocado por muitas mãos”.
Quanto aos riscos maternos, estudos demonstram que é o mesmo de qualquer outro procedimento cesárea. “O tempo que transcorre do procedimento cirúrgico do neonato é em média três minutos a mais. Uma vez que o Ministério da Saúde preconiza um maior tempo para ligadura do cordão umbilical: 2 a 3 minutos”, salienta Célia Maria Meira de Britto, cirurgiã pediátrica, coordenadora do Serviço de Cirurgia Neonatal da Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto, que realizou da primeira cirurgia brasileira utilizando a técnica.
Abordagem cirúrgica
“Na Simil-EXIT, a gestante é submetida à anestesia peridural. Quinze minutos antes do início da cesárea, inicia-se a infusão de Remifentanil, na dose de 0.05 a 0.08 mcg/Kg/m, enquanto houver batimento do cordão ou sua ligadura, que ocorre ao termino da redução das alças. Ao nascimento, o bebê é acomodado entra as pernas da mãe, monitorizado (oximetria) e acalentado com uma chupeta com glicose enquanto o cirurgião suavemente introduz as alças na cavidade, iniciando com as mais distendidas e orientando o intestino delgado para o lado direito e o intestino grosso para o esquerdo, devido a esses pacientes apresentarem vício de rotação intestinal. Um dos obstetras controla a pulsação do cordão umbilical. Ao final, o bebê é transferido para um berço aquecido para oclusão do defeito e assistência do neonatologista”, explica Célia.
Na cirurgia, o recém-nascido não necessita de anestesia, pois o Remifentanil administrado através da mãe passa para o bebê por via placentária, propiciando a sedação necessária ao procedimento. “Não é preciso intubação e suporte ventilatório”, diz a cirurgiã brasileira.
Resposta à terapêutica
“A resposta ao procedimento tem sido muito boa, com menos infecções que as crianças tratadas com outras técnicas, com menos necessidade de Ventilação Mecânica e com tolerância alimentar mais precoce que em outros casos”, salienta Svetliza.
“Complicações dos bebês operados com essa técnica podem ocorrer, porém, em incidência infinitamente menor”, afirma Célia.
Atualização
“Aproveito para convidar todos para o Curso de Defeitos Congênitos da Parede Abdominal do Jubileu de Ouro da CIPE. Estarei presente, dando detalhes sobre a Símil-EXIT e esclarecendo dúvidas”, acrescenta Svetliza. O evento acontecerá no Hotel Maksoud Plaza, na capital paulista, de 27 a 31 de outubro de 2014.
Caso pioneiro
Em 18 de julho de 2014, Célia Maria Meira de Britto coordenou o primeiro procedimento brasileiro utilizando a técnica Simil-EXIT, realizado na Maternidade de Referencia Prof. José Maria de Magalhães Neto. Confira a seguir o relato da cirurgiã:
“O diagnóstico da gastrosquise aconteceu no 5º mês, com acompanhamento ultrassonográfico pré-natal. Na 33ª semana, a gestante foi internada por apresentar oligohidrâmnio, sendo acompanhada de perto por nossa equipe obstétrica, que indicou a cesárea na 34ª semanas e quatro dias, por evoluir com importante redução de liquido amniótico.
Durante o procedimento, no nosso paciente a oxímetria se manteve em parâmetros adequados oscilando entre 92 a 95% e, ao final, quando o bebê já chorava, ela estava em 99%. O nosso bebê nasceu pesando 1650 gramas.
O recém-nascido iniciou dieta ao seio materno no 5º dia, ainda com sucção muito débil provavelmente pelo fato de ser um bebê, além de prematuro, pequeno para a idade gestacional e com sofrimento intrauterino. Demorou a apresentar uma sucção potente sendo necessário complementar sua alimentação. Esse fato fez com que atrasasse um pouco sua alta, porém teve alta da UTI com 10 dias. Em casa, apresenta boa evolução e ganho normal de peso.
No procedimento, a equipe de cirurgia pediátrica foi composta pela Dra. Célia Britto e Dr. João Eugenio Dias. O serviço de obstetrícia foi formado por Amado Nizarala, chefe da obstetrícia; e Sabrina Carvalho. Coordenado a equipe anestésica estava a Dra. Leticia Bulhões, e a equipe da Neonatologia o Dr. Samir Nasser. Também contamos com o suporte de enfermagem, que se encarregou de organizar e providenciar nossas solicitações.
Naquele momento, eu era a única profissional que conhecia de perto a técnica. Expliquei aos colegas e fiz com que eles acreditassem que era possível e que conseguiríamos realizar o procedimento numa maternidade pública, sem ser necessário nada de fenomenal para isso, apenas garra, fé, harmonia, sincronia, organização e apoio fundamental da Instituição.
Não vou negar que ao final do procedimento, tinha mãos tremulas de emoção por presenciar que todo trabalho de preparação e convencimento tinha dado certo. Quero agradecer a todos que acreditaram e apoiaram. “Um agradecimento especial ao Dr. Javier por me ensinar esta técnica e por estar sempre disponível para me tirar dúvidas, respondendo meus questionamentos com simplicidade e carinho”.