A mais do que louvável iniciativa da Sociedade Brasileira de Urologia, propondo o novembro azul para discutir e divulgar os cuidados com a saúde urológica do homem, nos leva a comentar que a saúde genital dos homens começa nos bebês e inclui as crianças.

Apesar da divulgação mínima de alguns problemas, há doenças urológicas pediátricas que têm uma incidência alta e são um problema sério de saúde pública. Estas doenças precisam ser mais conhecidas por todos e melhor resolvidas no Brasil.

Duas delas são especialmente importantes, pela alta frequência e consequências graves, e escolhemos falar mais longamente destas situações.

A dilatação dos rins em fetos é bastante comum: afeta até 4% das gestações. Na maior parte dos casos este problema é funcional e se resolve espontaneamente, mas nos bebês do sexo masculino pode ser sinal de uma doença grave, que pode causar insuficiência renal e até morte fetal, a válvula da uretra posterior. Estes casos são poucos, uma minoria, mas são muito importantes, porque podem e devem ser descobertos precocemente, ainda durante a gravidez, por meio de exames de imagem e indícios clínicos específicos. Alguns casos podem ser tratados durante a gestação. Todos precisam ser investigados e tratados imediatamente após o nascimento por um cirurgião com treinamento específico em urologia pediátrica. Por causa disso o ideal é que as gestantes que esperam bebês com este problema, chamado tecnicamente de hidronefrose, sejam encaminhadas ainda antes do nascimento para um especialista que pode avaliar o caso, determinar os riscos e programar o tratamento e o acompanhamento da criança após o nascimento.

O segundo problema são os testículos não descidos (tecnicamente a doença é chamada de criptorquia). Esta doença é muito frequente (até 3% da população pediátrica). A maioria dos casos é congênita (já presentes no recém-nascido), embora alguns casos sejam adquiridos mais tardiamente (estes são chamados de testículos ascendentes). Nos casos congênitos o tratamento precoce é importante para garantir uma cirurgia mais simples e com maiores taxas de sucesso, evitar a atrofia progressiva dos testículos e, talvez, casos de tumores testiculares numa idade mais velha (tumores testiculares são 5 vezes mais comuns em pessoas com antecedentes de criptorquia). Nos casos que afetam apenas um dos testículos a taxa de fertilidade é bastante parecida com a da população em geral, mas os casos bilaterais têm uma taxa muito alta de infertilidade, que piora quando o tempo de espera para a cirurgia é mais longo. Infelizmente há uma taxa muito alta de cirurgias tardias no nosso meio, tanto pelo diagnóstico atrasado quanto pelo encaminhamento inadequado dos casos ao especialista que vai fazer o tratamento definitivo. A cirurgia, que é curativa, tem ótimos resultados nas mãos de cirurgiões que tenham sido treinados para trabalhar na área de cirurgia e urologia pediátrica e em geral é feita em regime ambulatorial (a criança é operada e tem alta no mesmo dia), idealmente já no segundo semestre de vida.

Precisamos enxergar o futuro nas nossas crianças. Precisamos enxergar o homem de amanhã nos nossos meninos. Precisamos proteger a saúde agora, para ganhar a saúde nos próximos oitenta anos.

Cirurgia Pediátrica: cura a criança para tornar o adulto saudável um projeto realista.