fonte: Sinmed/RJ

Dos males, o menor. A transferência para o estado dos seis hospitais federais do Rio de Janeiro ficou fora de cogitação na reunião do último dia 07, entre o governa dor Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ministro da Saúde, Arthur Chioro. Porém, não é possível se tranquilizar diante do acordo firmado entre os três representantes – um pacto para unificar a gestão dos hospitais municipais, estaduais e federais do Rio.

“Isso nos preocupa. Pois, como será? Terá alguma instituição fazendo esse trabalho de integração ou será um grupo com representantes das três esferas? Não ficou claro. Poderá até ser a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) a responsável por esta tarefa. Por tanto , a nossa recomendação é que todos fiquem atentos e preparados para reagir à qual quer tentativa do governo de entregar ao privado a gestão pública”, alertou o presidente do SINMED-RJ, Jorge Darze.

As três esferas atuarão em conjunto também na contratação de serviços e na com pra de medicamentos e suprimentos hospitalares, como forma de reduzir os custos. Segundo o ministro, o dinheiro economizado poderá ser usado para oferecer serviços de saúde hoje escassos ou, ainda, na construção de novos hospitais. Com a medida, será possível centralizar, por exemplo, a marcação de consultas e cirurgias.

“À medida que a gente se organiza, muitos serviços que são repetidos deixarão de ser oferecidos. Ao mesmo tempo, vamos identificar quais serviços não são ofertados. O ganho para o usuário do sistema vai ser muito grande”, disse Chioro. O pacto também prevê a qualificação de profissionais de saúde das redes municipal, estadual e federal. Haverá ainda, segundo os participantes da reunião, a reestruturação dos serviços oferecidos pelos hospitais universitários e filantrópicos. O objetivo é garantir a assistência em todas as regiões do estado.

A expectativa é que o sistema de gestão esteja unificado em até seis meses. “A maior rede de hospitais federais está no Rio. Essa integração para nós é fundamental” disse o governador Pezão.

Problemas

O orçamento anual dos seis hospitais – Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores – chega a R$ 4,5 bilhões. O estado quer garantir o recebimento desta verba por muitos anos. Apesar do orçamento generoso, os hospitais federais do Rio enfrentam muitos problemas – 600 de seus leitos foram fechados nos últimos anos, obras intermináveis prejudicam o atendimento no Andaraí e em Bonsucesso.

Para o diretor do SINMED-RJ, José Antônio Alexandre Romano, a medida não altera em nada a crise pela qual os três setores da saúde passam. “Não adianta centralizar a distribuição de leitos, se não existem leitos disponíveis. Não foi falado em reabertura dos 13 mil leitos perdidos no Brasil. Tenho a impressão de que o governo tenta justificar a compra de serviços privados”.

Mobilização

No último dia 7, médicos e funcionários do Hospital Federal de Ipanema se posicionaram contra a possível estadualização da unidade. O encontro contou com o apoio do CREMERJ e do SINMED-RJ. Neste ano, o Hospital de Ipanema já realizou três assembleias, sendo duas com ato público no entorno da unidade. Os hospitais da Lagoa e dos Servidores do Estado do Rio de Jane iro, além do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), também promoveram reuniões para discutir o assunto.

Darze relembrou momentos em que os hospitais de Ipanema, Lagoa, Andaraí e Cardoso Fontes seriam municipalizados, mas, devido à luta conjunta dos colegas, o ministro da Saúde, que na época era o Alexandre Padilha, recuou, mantendo essas unidades ligadas à rede federal.

Para o presidente do CREMERJ, Sidnei Ferreira, mesmo com negação do governador sobre a estadualização, é importante acompanhar o assunto. “A cada dia fica mais claro que o governo não tem planejamento para os principais setores, como a saúde a educação. […] Os hospitais esta duais estão em péssimas condições e sendo entregues a Organizações Sociais. Ou seja, não há competência para gerir as suas próprias unidades. É importante que cada hospital se organize, mas que o movimento seja um só”, afirmou Sidnei, lembrando a vitória na luta contra a transformação do Hospital de Ipanema em uma central de transplantes, depois de mobilização intensa de médicos, funcionários e entidades, que acabou culminando com ida a Brasília.

Municipal e Estadual

Sobre a atual situação da rede hospitalar municipal, a vice-presidente do SINMED-RJ, Sara Padron, disse que o Rio já teve uma experiência com municialização e não teve êxito. “Uma gestão integrada é o que nós desejamos, mas primeiro é preciso recuperar os hospitais dessa situação precária”. Já na esfera estadual, para a diretora do SINMED-RJ, Monica Azevedo, a gestão integrada não trará melhora alguma. “No Hospital Estadual Carlos Chagas, existem todo tipo de vínculo: estatutário, Organizações Sociais de Saúde, fundação, etc. E nada melhorou, o índice de óbito continua alto e os corredores lotados de pacientes”, lamentou.