fonte: G1
Após passar por uma cirurgia que durou aproximadamente 10 horas e transplantou cinco órgãos na semana passada, a menina Sofia Gonçalves de Lacerda se recupera bem, segundo a mãe, Patrícia de Lacerda. Ela postou em uma rede social um vídeo do pós-operatório do bebê de um ano e três meses nesta segunda-feira (13), na UTI do Miami Transplant Institute, nos Estados Unidos. Nas imagens, Sofia está acordada e brinca com a mãe.
No procedimento, Sofia recebeu estômago, fígado, pâncreas, intestino delgado e cólon. Não foi preciso trocar um dos rins, como foi anunciado pelos especialistas do hospital. Os orgãos foram doados de um bebê do estado da Flórida, informou Patrícia.
“Nossa bonequinha segue se recuperando bem, conforme o esperado. Não está mais sedada e está acordada. Já dançou, ficou de pernas para o ar e agora está assistindo seus desenhos animados. Conseguimos chegar onde parecia impossível. Seremos eternamente gratos a família do anjinho doador, que para sempre estará nas nossas orações”, diz a mãe em postagem na internet.
Sofia nasceu em Campinas (SP) com a Síndrome de Berdon, uma doença rara que causa a má formação de vários órgãos do sistema digestivo. Ela sequer conheceu a casa dos pais, em Votorantim (SP), já que sempre ficou hospitalizada. A menina chegou a ser submetida a três procedimentos cirúrgicos no Brasil, mas ainda necessitava de atendimento especializado para a síndrome rara e para o transplante multivisceral, que não poderia ser realizado no país. A transferência da menina para os EUA só aconteceu por determinação da Justiça, que ordenou que a cirurgia, estimada em R$ 2 milhões, fosse paga pelo governo brasileiro.
Em outra postagem na página que a mãe tem em uma rede social, ela disse que a menina está se recuperando bem, apesar de ainda necessitar de cuidados intensos. “Ainda temos muito que enfrentar, é uma montanha russa de sentimentos, mas sempre confiei em Deus e sei que logo tudo estará bem. Logo veremos nossa bonequinha brincando, comendo e livre”, afirmou.
“Amo o que faço”
O médico brasileiro responsável por fazer o transplante multivisceral na menina Sofia Lacerda, de um ano e três meses, diz que o desafio de ter uma vida tão frágil em suas mãos não o incomoda. Rodrigo Vianna, de 44 anos, é diretor do setor de transplante de órgãos sólidos do Miami Transplant Institute, nos Estados Unidos. “Já realizei e participei de mais de 400 transplantes intestinais e multiviscerais como o da Sofia. Estou ficando de cabelo branco de operar estes pacientes…(risos). Mas a responsabilidade faz parte da minha vida e não me incomoda. Amo o que faço”, revela o médico.
Segundo Vianna, o procedimento foi complexo por conta do estado avançado da doença hepática da paciente. “Ela recebeu estômago, fígado, pâncreas, intestino delgado e cólon. Não foi preciso trocar um dos rins, como imaginávamos no início”, afirma.
O médico especialista diz que já passou por outras situações parecidas com o caso de Sofia. “Já chegamos a realizar o transplante de sete órgãos de uma única vez, em um paciente com três meses de vida”, lembra.
Após superar a cirurgia, a menina tem o desafio de enfrentar um complicado pós-operatório. “As primeiras 72 horas são bastantes críticas, mas ela passa relativamente bem, estável e dentro do esperado. Os riscos são de complicações cirúrgicas e infecciosas na primeira semana. Estes pacientes são muito debilitados. Recebem medicações muito fortes para evitar a rejeição [dos órgãos], que acontece em 20% dos casos, e estas medicações baixam o sistema imunológico. A Sofia, por exemplo, está tomando mais de 20 remédios”, explica.
O transplante de Sofia teve também a participação de outro brasileiro: o médico Thiago Beduschi, que fez a captação dos órgãos do bebê doador. A participação de dois brasileiros na luta pela vida da menina é motivo de orgulho para Vianna. “No meio de tanta notícia ruim, pelo menos a Sofia leva um pouco de esperança de que podemos fazer o que é certo para o nosso povo. Ver a luta da família e o carinho da nossa gente tem sido uma sensação muito gratificante. O futuro é imprevisível, mas pelo menos existe a chance de recomeçar a vida. E isto não tem preço”, finaliza.