fonte: Folha de SP | por Cláudia Colluci
Dois fatos me chamaram a atenção no acidente aéreo envolvendo a família Huck: o ódio destilado na internet em relação ao casal de apresentadores globais e uma espécie de “comemoração” pelo fato de terem sido atendidos, primeiramente, no SUS.
Não vou perder tempo falando do ódio porque o melhor a fazer com a pessoa que deseja a desgraça do outro é ignorá-la. Quero me ater à “polêmica” gerada pelo atendimento público prestado à família.
Nada, absolutamente nada, contra o fato de Angélica, Luciano e os filhos terem usado o SUS (e muito menos as babás e os pilotos). Todo e qualquer cidadão brasileiro tem direito ao SUS, está na Constituição.
Se outras celebridades, ricos e mesmo a classe média utilizassem o sistema público de saúde, como fazem os canadenses e os ingleses, por exemplo, certamente ele estaria bem melhor porque haveria mais pressão social para elevar a qualidade e o financiamento.
Será que um dia o brasileiro vai acordar e perceber que poderia estar recebendo um tratamento de qualidade sem pagar um tostão por isso?
A questão nesse caso é outra. O coordenador do Samu de Campo Grande acusa a Santa Casa de ter negado atendimento a seis pacientes enquanto a família Huck era atendida com privacidade na UTI cardíaca.
“Fiquei muito decepcionado de ver que de repente a Santa Casa fecha uma UTI cardíaca para receber o Luciano Huck e Angélica. Estamos com pacientes entubados e ventilados a mão há mais de 12 horas esperando atendimento. Por que que eles passaram na frente dos outros?”, indagou Eduardo Cury.
A Santa Casa publicou nota de esclarecimento garantindo que em momento algum negou ou recusou atendimento a qualquer pessoa que tenha procurado o hospital.
Não admiraria nem um pouco se isso for confirmado, já que a prática é corriqueira. Mesmo entre nós, reles mortais.
Dentro do SUS, especialmente nos hospitais de ponta, muitos atendimentos não acontecem de acordo com as regras do sistema (referência e contrarreferência), mas, sim, por QI (quem indica).
Isso já foi exaustivamente denunciado na imprensa, tanto que não causa mais indignação. Pelo contrário. O “salve-se quem puder” parece estar institucionalizado.