fonte: Estadão

Motivo de pânico no passado, sarampo, caxumba e coqueluche foram praticamente eliminadas no Brasil graças à introdução de vacinas, mas, agora, voltam a preocupar médicos e autoridades sanitárias. Com o baixo número de casos observados na última década, a ameaça ficou imperceptível, o que levou ao relaxamento de pais em relação à vacinação dos filhos.

Nos últimos anos, o Ministério da Saúde tem observado redução nos índices de cobertura vacinais de alguns imunizantes. Embora a queda seja pequena, ela já resulta na alta no número de casos de doenças até então consideradas controladas.

Segundo dados da pasta, a incidência de coqueluche aumentou dez vezes em apenas três anos, casos de caxumba têm se tornado mais frequentes em Estados como São Paulo e Rio e um surto de sarampo acaba de atingir o Nordeste – o Brasil estava havia 12 anos livre da transmissão interna do vírus.

“É um engano os pais acharem que a criança não precisa da vacina porque a doença não é mais circulante. Com os deslocamentos de turistas e viagens dos próprios brasileiros, é possível ter contato com as doenças. Foi o que aconteceu no surto de sarampo no Ceará e em Pernambuco. O vírus foi provavelmente trazido por uma pessoa que viajou à Europa”, diz Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do governo.

Desde 2000, o Brasil não registrava casos de sarampo autóctones (quando a contaminação acontece dentro do País). Em 2013, houve surto nos dois Estados do Nordeste, o que fez o Brasil passar de dois casos em 2012 para 732 em 2014. A situação foi considerada controlada pela pasta há apenas dez dias.

Mais gastos

Segundo Carla, se houver o relaxamento na vacinação, o esforço e os gastos para interromper a transmissão serão muito maiores. “O sarampo é grave e pode causar surdez, cegueira, complicações respiratórias e até a morte. As doenças que antes eram vistas como de criança hoje podem se tornar um grande problema de saúde pública para o adulto.”

Caxumba e sarampo são prevenidos pela mesma vacina, a tríplice viral, que ainda dá imunidade contra rubéola. Embora a cobertura vacinal da primeira dose, administrada aos 12 meses de idade, seja alta, metade das crianças não toma a segunda, afirma a coordenadora do PNI. “Na tríplice viral, o componente que protege contra a caxumba é o que tem menor eficácia. Esses jovens que estão contraindo caxumba em São Paulo, no Rio e em outros Estados provavelmente não tomaram a segunda dose.”

O ministério não tem dados nacionais, mas informações da secretaria estadual mostram que o Rio registrou até agosto 1.241 casos de caxumba, mais do que o dobro do número de todo o ano passado, quando 561 pessoas ficaram doentes. Em São Paulo, os primeiros oito meses do ano já acumulam quase o mesmo número de casos que todo o ano de 2014: 106 contra 118.

Explosão

Mas o fenômeno que mais preocupa é a explosão de casos da coqueluche. Não por acaso, o crescimento de doentes acontece paralelamente à queda da cobertura da vacina pentavalente, que garante imunidade contra coqueluche, difteria, tétano, meningite e hepatite B. Entre 2010 e 2013, o número de infectados subiu de 605 para 6.368 e as mortes passaram de 18 para 109. No mesmo período, a cobertura vacinal caiu de 97,6% para 94,5%.

A maioria das vítimas tem menos de 1 ano de idade – elas não estão completamente protegidas, pois o esquema vacinal em três doses é finalizado aos 6 meses. Como o adulto pode ter a doença sem sintomas, muitas vezes são os pais que, sem saber, transmitem a bactéria. “O adulto perde a imunidade com o tempo e pode disseminar a doença sem perceber. A estratégia do ministério foi vacinar a gestante para que o bebê já nasça com imunidade, mas a adesão das mulheres é muito baixa”, diz Jacy Andrade, professora de Infectologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).