fonte: Folha de SP

por Cláudia Collucci

Você lê as notícias sobre a crise enfrentada pela Unimed Paulistana e respira aliviado pensando estar à salvo? Não deveria. Especialistas na área da saúde suplementar têm sinalizado que outras empresas devem passar pela mesma situação. “É uma morte anunciada. A situação não está boa”, diz Pedro Ramos, diretor da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo).

Qual será a próxima empresa a quebrar? Ninguém da área se arrisca a dizer. A recomendação aos usuários tem sido checar a saúde financeira das operadoras no site da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), mas, convenhamos, para nós, leigos em economia, não é uma tarefa fácil analisar balanços financeiros.

Um bom (e fácil) começo é olhar as avaliações das operadoras, verificar quais estão com planos suspensos e se há muitas reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. Mesmo assim, não há uma segurança absoluta.

Outra pergunta que todo mundo tem feito é: como um plano de saúde do porte da Unimed, com uma carteira de mais de 700 mil vidas, com faturamento de R$ 3,2 bilhões por ano, pode quebrar?

Olhando retrospectivamente, é possível observar que foram vários os sinais.

Em 2009, a empresa chegou a dever R$ 1,3 bilhão em tributos. A partir daí a ANS passou a controlar todos os seus passos e exigiu a troca do conselho de administração. Em julho de 2012, a ANS suspendeu a venda de 32 produtos da Unimed Paulistana.

A empresa contratou consultorias externas, trocou novamente o comando, a dívida foi alongada, houve melhor controle de custos, mas, ainda assim, fechou 2014 no vermelho.

Mas como a quebradeira ocorreu se a empresa estava sendo acompanhada pela ANS desde 2009?

Em entrevista à “Exame.com”, a advogada Renata Vilhena Silva, especializada em direito à saúde, afirma que a ANS foi “conivente” com má gestão da Unimed Paulistana e não cumpriu seu papel de reguladora.

Já os planos de saúde criticam a agência por outras razões. Dizem que a ANS não avalia corretamente os impactos financeiros dos novos procedimentos que as operadoras têm que oferecer ao cliente e que os reajustes concedidos não cobrem os custos desses novos gastos.

Em meio a esse tiroteio, quem mais perde é o consumidor. No caso da Unimed Paulistana, os usuários só estão encontrando opções mais caras e planos inferiores ao que tinham anteriormente. Há dramas de todos os tipos.

Usuários que perderam seus médicos e hospitais de referência, cirurgias eletivas canceladas, doentes graves que precisam de homecare correndo o risco de falta de assistência e por aí vai.

E quais são os direitos dos consumidores nessas situações? Todos aqueles garantidos nos contratos firmados com a operadora de plano de saúde. Mas isso não significa que será cumprido, mesmo com ordem judicial.

O caso Unimed Paulistana deveria servir para uma reflexão se é esse o modelo de saúde privatizada, que visa prioritariamente o lucro, que queremos ou se deveríamos batalhar com unhas e dentes por um SUS melhor, com mais recursos e mais gestão. Assim como fazem os espertos canadenses, ingleses, alemães, franceses etc. Por quebradeira de planos, desemprego ou qualquer outra intercorrência que o leve a ficar sem dinheiro, você pode ser a próxima vítima.