intofonte: Bom Dia Brasil

O Bom Dia Brasil tem mostrado o sofrimento dos brasileiros forçados a esperar pacientemente nos mais diversos tipos de fila. O exemplo desta terça-feira (24) vem do Rio de Janeiro.

É uma fila invisível que anda lentamente em um hospital público reconhecido pelo atendimento de qualidade. O repórter André Trigueiro mostra a história de pacientes que convivem com dores terríveis esquecidos durantes anos em uma fila virtual.

Dona Nide Oliveira tem artrose nos dois joelhos, anda com a ajuda de muletas e não consegue suportar as dores sem anestésicos. “Olha, eu não tenho mais esperança, é muito difícil, moço, eles não sabem o que a gente passa nessa fila, eu sofro todo dia, dia e noite eu sinto dor”, relata a dona de casa.

Há quase três anos ela espera a vez na fila virtual do Into, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, hospital de referência no Rio. O Bom Dia Brasil checou a posição de dona Nide na fila de espera dos pacientes do Into: 1293ª.

Bom Dia Brasil: Tem que esperar, não tem outra opção. Tem que esperar?
Dona Nide Oliveira: É isso que eles falam, tem que esperar.

O motorista Aguinaldo da Silva vive a mesma angústia. Ele está na fila do Into há mais de seis anos aguardando uma cirurgia no quadril. A longa espera agravou o estado de saúde.

Bom Dia Brasil: Enquanto não acontece a cirurgia, como é o dia a dia do senhor?
Aguinaldo da Silva: Dor 24 horas, à base de remédio, inclusive está tudo aqui na bolsa.
Bom Dia Brasil: Não tem outro jeito de fazer essa cirurgia?
Aguinaldo da Silva: Só aqui, nenhum hospital aceita, só o Into.

O Bom Dia Brasil também entrou na fila virtual do Into para ver o número do Aguinaldo: 46°.

Bom Dia Brasil: O que é mais difícil nessa longa espera?
Aguinaldo da Silva: Ah, o sofrimento que eu tenho, a dor.

Tão incômoda quanto a dor dessas pessoas é a certeza de uma longa e indefinida espera até a cirurgia. Hoje, quase 14 mil pessoas aguardam a vez na fila silenciosa, que só existe no computador.

Quem vai ao Into não vê tumulto, confusão, muito menos fila. Mas se fosse possível reunir em um só dia todas as pessoas que aguardam a vez na fila virtual para serem operadas lá, o tamanho da fila de verdade seria de aproximadamente sete quilômetros de extensão, o suficiente para dar nove voltas e meia no quarteirão onde fica o instituto.

A Defensoria Pública da União vem tentando reduzir o tamanho dessa fila. E cobra medidas da Prefeitura do Rio, do Governo do Estado e do Governo Federal para aliviar o Into.

“O governo brasileiro precisa criar outros institutos de traumatologia. Há necessidade de uma descentralização. As cirurgias ortopédicas nos hospitais estaduais e municipais também precisam avançar porque eu sobrecarrego um instituto de traumatologia, que é um instituto de excelência, tem estrutura, mas ele não tem estrutura para absorver toda a demanda do país”, afirma o defensor público federal, Daniel Macedo.

O Ministério da Saúde diz que ampliou a rede especializada, com a construção de 27 centros de referência em todo país, desde 2010. O governo do Rio também afirma que aumentou a sua rede nesse período com três novos hospitais. E a prefeitura do Rio diz que no ano passado fez quase 40% de todas as cirurgias ortopédicas em hospitais da rede pública na cidade.

Mas pacientes e quem trabalha no Into não percebem os reflexos destes números no atendimento do hospital. Uma funcionária do Into, que não quis se identificar, diz que a fila não anda porque o hospital precisa atender casos de urgência.

“Você, que tem um paciente que está há cinco anos esperando, há dois anos esperando, em uma semana o paciente que vem dessa rede pública municipal ou estadual já está sendo operado e isso diminui muito a possibilidade da fila andar”, relata.

A direção do Into informou que a média diária de cirurgias cresceu 40% no primeiro semestre. E o que a dona Nide acha disso? Ela entra todos os dias no sistema. E isso só faz a expectativa aumentar.

“Três vezes ao dia, de manhã, de tarde e à noite, e tem mês que passa um mês, não andou um número. Não faz a mínima ideia o sofrimento que é de você querer andar e não poder, você querer varrer uma casa e não poder”, diz a dona de casa.

O instituto diz que já recadastrou mais de oito mil pacientes que estavam na lista de espera de cirurgias. E que neste ano, ele está fazendo 45 cirurgias, em média, por dia. No ano passado foram 30 cirurgias em média por dia. O objetivo é chegar em 60 cirurgias.

Em relação à fila virtual, o Into diz que andou 48 posições no caso da paciente Nide de Oliveira, que espera pela cirurgia no joelho, tipo de operação que tem maior demanda atualmente.

Só que ainda existem 1244 pessoas na fila na frente da dona Nide. No caso do Aguinaldo, a fila não andou, segundo o Into, porque há restrições para procedimentos que envolvem infecção.

O Bom Dia Brasil procurou o Into, mas nenhum representante quis dar entrevista.