fonte: Extra
Eram 7h desta segunda-feira quando Maria Madalena Silva, de 48 anos, saiu com o marido de casa, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, em busca de atendimento médico. Com febre de quase 40 graus e evacuando sangue, o pedreiro José Alves de Mesquita, de 53 anos, vira seu quadro se agravar rapidamente após ter constatada uma suspeita de câncer no intestino. No Hospital Federal do Andaraí, esperaram por duas horas, em vão. Decidiram retornar pela Estrada Grajaú- Jacarepaguá rumo ao Hospital Federal Cardoso Fontes. José, porém, só seria atendido por volta das 17h, após dez horas de peregrinação e dores.
— A médica disse que ele poderia até ter morrido. Dá vontade de chorar, de esbravejar, mas preciso ampará-lo — desabafou a dona de casa Maria.
A situação de José traduz o que apresentam os números de serviços prestados nos hospitais federais da cidade do Rio. Na comparação com 2010, a quantidade de pacientes atendidos nas emergências dessas unidades, este ano — até setembro — caiu 88%.
O Cardoso Fontes é a unidade administrada pelo Ministério da Saúde com maior redução nos atendimentos: 92,66%. A comparação é entre todo o ano de 2010 com o período de janeiro a setembro de 2015. Apesar dos intervalos diferentes, o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, acredita que a redução ao fim do ano será acentuada da mesma maneira:
— A razão disso é a falta de concursos. Esses hospitais estão com ‘anemia’, sendo asfixiados pela falta de funcionários, sobretudo médicos e enfermeiros. Isso compromete a capacidade de resolver os problemas.
O levantamento foi feito a pedido do deputado Milton Rangel (PSD), via Lei de Acesso à Informação, e publicado na coluna “Extra, Extra”, da jornalista Berenice Seara.
Repasses aumentaram
Enquanto os atendimentos diminuem, os repasses do Ministério da Saúde (MS) aos hospitais federais do Rio crescem. Em 2010, foram R$ 3 bilhões. Em 2014, o valor transferido saltou para R$ 4,6 bilhões, um aumento de 52,74%. De janeiro a outubro deste ano, essas unidades já receberam R$ 4,4 bilhões.
O Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) do Rio de Janeiro, vinculado ao MS, justificou que as seis unidades passam por obras de reestruturação em suas enfermarias desde 2013. E que os hospitais do Andaraí, Bonsucesso e Cardoso Fontes também estão com as emergências em obra.
Em nota, o DGH alegou prejuízos com as greves entre 2012 e 2015. Sendo que, apenas em 2014, o movimento grevista durou cinco meses, o que impactou no atendimento assistencial.
O DGH apresentou ainda números diferentes de atendimentos até setembro deste ano: 35.848 internações, 30.892 cirurgias, 565.207 mil consultas ambulatoriais e 68.842 atendimentos de emergência e plantão geral.