fonte: O Dia
O livro de ocorrências do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, endossa a denúncia de que o prefeito Eduardo Paes teria sido grosseiro com a médica que atendeu o filho dele, de 11 anos, no domingo à noite. O filho de Paes sofreu uma queda após partida de hóquei. O relatório diz que o prefeito demitiu a profissional e ameaçou bani-la da rede pública quando ela pediu que a ficha do menino fosse preenchida, procedimento de praxe em emergências, segundo o hospital.
“O senhor prefeito começou a gritar de forma ríspida Disse que a médica não sabe fazer o atendimento e que ele agora não estava falando como cidadão e sim como prefeito, seu patrão, e a demitiu”, afirma o texto, escrito por um funcionário do hospital. Paes ainda teria ameaçado: “Não irá trabalhar em nenhuma unidade mais do município do Rio.”
O problema enfrentado pelo prefeito faz parte do dia a dia de quem busca atendimento na rede pública de saúde do Rio. O DIA percorreu dois hospitais recém municipalizados da Zona Oeste: Albert Schweitzer, em Realengo e Rocha Faria, em Campo Grande, e encontrou muita reclamação pela precariedade e indignação com o comportamento de Paes.
“Fui barrada na recepção do Albert Schweitzer. Sinto dores no corpo, febre, sintomas da dengue. Me mandaram procurar outro hospital, pois aqui só atendem casos graves e não havia médico à tarde. O prefeito poderia percorrer outras unidades para ver nossa realidade”, criticou a cuidadora de idosos Isa Telles Moura, 63.
Profissional traumatizada
Insatisfação também na porta do Hospital Rocha Faria entre pacientes que não conseguiram fazer exames. E o alvo mais uma vez era o prefeito. “Precisava o filho dele ir a um hospital para saber que não há médicos?”, reclamou Marilza Ferreira, que não conseguiu marcar tomografia para o marido, com câncer. A Prefeitura diz que são unidades de emergência, com prioridade para casos de maior gravidade.
O prefeito argumentou que a ocorrência do Lourenço Jorge representa a versão da médica e acusou Darze de explorar politicamente o episódio. “O prefeito reitera que continuará utilizando os hospitais municipais e cobrando — como cidadão e gestor — um melhor atendimento para a população”, comunicou, por meio nota, a assessoria de imprensa de Paes.
A ocorrência no livro do hospital diz que a profissional de saúde ficou constrangida e destaca que ela “sempre exerceu seu papel de excelente médica”. O Sindicato dos Médicos vai encaminhar o caso ao Ministério Público do Trabalho (com a acusação de assédio moral). A médica, não identificada, foi afastada do serviço por trauma emocional, segundo o SindMed/RJ. “É inadmissível que a autoridade maior da prefeitura tenha esquecido das regras da administração pública”, criticou Jorge Darze, presidente do SindMed/RJ.