fonte: O Globo
A fosfoetanolamina sintética, também conhecida como pílula do câncer, começará a ser testada em seres humanos pela primeira vez a partir de segunda-feira em São Paulo. A data do início do estudo clínico com a substância foi anunciada nesta quinta pelo governador Geraldo Alckmin.
Alckmin informou que o grupo de 210 pessoas que receberão a substância será convocado até amanhã. Ao lado do secretário estadual de Saúde, David Uip, e vice-presidente do Instituto do Câncer, Paulo Hoff, o governador de São Paulo afirmou que espera, com o início das pesquisas, uma redução no número de liminares e mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça para distribuir as pílulas a pacientes.
Conforme O GLOBO antecipou nesta quarta-feira, o governo de São Paulo já recebeu cerca de 800 mandados judiciais determinando a distribuição da substância a pacientes com câncer. O secretário de Saúde disse ter liberado cerca de dois quilos de fosfoetanolamina para essas pessoas.
— Não adianta enviar mandado para o estado porque o que está encapsulado é para pesquisa — explica Alckmin.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) vem financiando estudos sobre a fosfoetanolamina na Universidade Federal do Ceará (UFC). Os últimos resultados divulgados da pesquisa demonstraram que a substância não foi capaz de reduzir tumores em roedores criados em laboratório. Mas testes em humanos ainda não foram realizados.
— Acreditamos que no momento que se tem mais de 20 mil pessoas que fizeram uso do produto e um grande interesse popular é uma obrigação que nós resolvamos de uma vez por todas a questão se o produto realmente é eficiente no tratamento do câncer ou não — observou Hoff.
Na primeira fase da pesquisa em São Paulo, dez pacientes com câncer serão avaliados. Se não forem detectados efeitos colaterais graves, mais 200 pessoas serão igualmente distribuídas entre dez grupos de tipos diferentes de tumor. Serão, então, 21 participantes por grupo. Eles devem começar tomando três comprimidos ao dia.
Em dois meses já se terá uma avaliação do resultado. Se de cada 21 pacientes três apresentarem resultado positivo, haverá mais 800 pacientes na segunda fase, ou seja, mais 80 em cada grupo, até que o número chegue a mil. Foram investidos R$ 580 mil na compra das pílulas para os testes.
— Estamos com bastante esperança que isso possa trazer avanços no tratamento das neoplasias — afirmou Alckmin.
Questionado sobre uma possível efeito colateral negativo nesses dez pacientes iniciais, Hoff disse que o teste seria reiniciado.
— Se destes dez pacientes for determinado toxicidade grave, o estudo tem que ser encerrado e voltar um passo atrás e achar qual a dose de segurança — explicou. — Mas imaginamos que isso não acontecerá porque até agora não houve relatos de eventos graves com as pessoas que já utilizaram até hoje — lembrou.
Os pacientes escolhidos já estavam cadastrado para fazer tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Não participarão pessoas em fase terminal da doença nem que estivesse fazendo tratamento com quimioterapia, para que o sistema imunológico esteja intacto.
— E colocamos pacientes em que os dois meses de tratamento não alterará a história natural do paciente — apontou Hoff.
A equipe envolvida nos testes acredita que em seis meses poderá apontar a eficácia da pílula.