fonte: O Globo

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, admitiu, na tarde desta quarta-feira, que os três novos leitos com piso de granito, móveis novos e TVs de LCD do Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, foram construídos para a Olimpíada. Segundo ele, o “padrão de qualidade” é o mesmo dos novos espaços que foram construídos em outras unidades da rede, como os hospitais Souza Aguiar, no Centro; e o Albert Schweitzer, em Realengo. Segundo Soranz, os leitos do Miguel Couto serão inaugurados na semana que vem.

— Fico feliz que as promotoras tenham achado que os leitos são de luxo, por esse ser o padrão da nossa rede. Acho que elas não conhecem as outras unidades. Os do Miguel Couto são de isolamento, para tratar pacientes com doenças infectocontagiosas. Eles precisam ter banheiros próprios. A sala de visita, na verdade, é uma antessala para que os médicos e enfermeiros ponham roupas especiais para evitar a contaminação. Nunca se pensou em ter leitos para A, B ou C — justificou o secretário, referindo-se à suspeita do MP de que os espaços seriam usados para o atendimento de autoridades que vieram para a Olimpíada.

A coordenadora da área de saúde do Ministério Público, a promotora Denise Vidal, afirmou que a promotoria visitou todas as unidades da rede municipal e não encontrou nenhuma com o mesmo padrão do Hospital Miguel Couto, inclusive com TVs de LCD. O MP recomendou que a prefeitura disponibilize, de imediato, os leitos de internação à população, assim como os oito consultórios novos encontrados no Bloco E do hospital, conhecido como torre.

— Pelo que estamos observando, o município agora pode internar os pacientes e prover a infraestrutura assistencial com os profissionais de saúde. Assim estaremos garantindo a assistência do paciente, conceito maior do que boa hotelaria. Se esse padrão se reproduzir em todos os hospitais municipais já vistoriados pelo Ministério Público, o secretário de Saúde merece uma medalha de ouro olímpica, porque os usuários do SUS terão garantia de acolhimento digno e de qualidade, pelo menos na hotelaria — disse Denise, lembando que, até quarta-feira, havia 250 pessoas na fila, quatro delas com doenças infectocontagiosas.

Conforme O Globo publicou na edição desta quarta-feira, as promotoras Luciana de Souza Garcia das Neves e Madalena Junqueira Ayres fizeram duas vistorias no Miguel Couto, desde maio, e encontraram as suítes bem equipadas, contando com aparelhos novos como desfibriladores. No local não havia, segundo a promotoria, filtros do tipo High Efficiency Particulate Air (Hepa), usados para evitar a contaminação em locais destinados a isolamento de pacientes com doenças infectocontagiosas.

Daniel Soranz argumentou que os filtros foram instalados nos aparelhos de ar-condicionado dos três leitos.

— É uma prática mais moderna. Certamente a promotora não viu o filtro lá dentro. A secretaria evoluiu muito. As reformas das unidades ficarão para a população como parte do legado olímpico. Os leitos do Miguel Couto estão aptos para receber até pessoas com doenças por vírus Ébola. O prédio era da década de 70 e era considerado insalubre. Conseguimos reformá-lo e dar uma utilidade pública — explicou o secretário, que disse não ter recebido a recomendação da promotoria para disponibilizar os leitos de imediato.

A coordenadora da área de saúde do MP reafirmou que nenhum filtro foi encontrado pelos técnicos do MP nos leitos. Para ela, se os espaços estão prontos, está na hora de a fila de regulação de leitos do município andar.

— Tenho certeza que o secretário vai colocar esses leitos em operação diante da extrema necessidade pelos altos índices de tuberculose do estado que chegam às clínicas de família — disse a promotora Denise Vidal.