fonte: CREMERJ

Médicos e demais profissionais de saúde participaram de ato público nesta quarta-feira, 17, contra o desmonte dos hospitais federais, promovido pelo CREMERJ, em frente à Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Em um dos momentos, o presidente da entidade, Nelson Nahon, entregou ao ministro da Saúde, Ricardo Barros, um dossiê com todas as vistorias recentes nos hospitais federais, comprovando de forma técnica os problemas da rede.

Entre as carências denunciadas pelo CREMERJ, destacam-se o desabastecimento de insumos e medicamentos nessas unidades, como remédios básicos para tratamento de tuberculose até quimioterápicos e morfina, utilizada por pacientes com câncer. Após receber o dossiê, o ministro questionou o alto custo das unidades federais, o que demonstra o desconhecimento da importância desses hospitais, que realizam procedimentos de alta complexidade.

“O ministro está tratando a saúde como negócio, mas é a vida de pacientes que está em jogo. Quando vistoriamos esses hospitais pensamos nas pessoas, não em dinheiro. Se as verbas são suficientes, é preciso melhorar em gestão. E a quem compete essa gestão? Ao Ministério da Saúde”, ressaltou Nelson Nahon.

Ainda durante o encontro, o presidente do CREMERJ cobrou, novamente, medidas sobre o encerramento de contratos temporários de médicos e demais profissionais de saúde. Só o Hospital Federal de Bonsucesso perdeu cerca de 30 profissionais da emergência neste mês. O ministro, por sua vez, afirmou que considera excessiva a quantidade de médicos nos hospitais da rede federal.

Infelizmente, a realidade é outra. Por conta da falta de médicos – cinco a menos nos últimos meses –, o setor de oncologia do Hospital de Bonsucesso não está recebendo novos pacientes. No Cardoso Fontes, com apenas dois médicos, já que quatro se aposentaram recentemente, o setor de clínica médica corre o risco de fechamento. O mesmo ocorre no Centro de Tratamento de Queimados, do Hospital Federal do Andaraí.

Outro ponto citado nas declarações do ministro foi a produtividade dos hospitais da rede federal, no entanto, o conteúdo dos relatórios demonstra que não são oferecidas condições necessárias para que as unidades funcionem da melhor maneira. Ao contrário, devido à falta de insumos e medicamentos e insuficiência de leitos e de profissionais de saúde, serviços importantes estão encerrando as atividades.

O presidente do CREMERJ contestou essa cobrança por produtividade, lembrando o exemplo do Instituto Nacional de Cardiologia, que recebeu ordens de reduzir as cirurgias em 30%. “Nossas fiscalizações, em parceria com a Defensoria Pública da União (DPU), mostram uma realidade e o ministro fala de outra. Em novembro de 2016 encontramos uma lista de quimioterápicos em falta nos hospitais. Voltamos seis meses depois e os mesmos medicamentos permanecem em falta. A situação piorou”, rebateu Nahon. O panorama que se desenha é complicado. Contratos temporários estão sendo encerrados, há ausência de proposta para realização de novos concursos, além de interrupção dos contratos para abastecimento de insumos e manutenção por falta de verba. Em contrapartida, o ministro afirma que os hospitais têm custo elevado, mostrando que desconhecimento desses problemas ou desinteresse em solucioná-los.

“Estive pessoalmente na emergência improvisada do Hospital de Bonsucesso, aquela de lata, e me deparei com pacientes internados em poltronas, aguardando exames há semanas. Os profissionais que trabalham nesses hospitais fazem o possível para oferecer o melhor, mesmo sem as condições mínimas. O que estamos vendo é criminoso. É, de fato, o desmonte das unidades federais”, lamentou Nahon, que ainda lembrou a importância desses hospitais – que ao todo são nove – e que são referência no atendimento de alta complexidade e na formação médica.