fonte: O Globo
Funcionários do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, fizeram um ato de repúdio à situação que estão vivenciando com salários atrasados há dois meses, na manhã desta segunda-feira. Com cartazes, eles foram para a frente do hospital protestar contra a falta de pagamento de salários. O diretor da unidade, Edmar Santos, informou que, nesta segunda-feira, tem início a redução do número de atendimentos em razão da crise. O número de internações será reduzido para até 100 leitos, os atendimentos ambulatoriais diminuirão para 60.000 e as cirurgias, para 300 por mês. Em situação normal são 350 leitos, cerca de 150.000 atendimentos ambulatoriais entre consultas e exames e 2.000 cirurgias por mês.
Segundo ele, os recursos para o pagamento de seguranças, do serviço de limpeza e de remédios estão em dia graças a arrestos nas contas do governo do estado feitos pela Defensoria Pública.
– É uma situação caótica. O corpo técnico não entrou em greve. Está todo mundo vindo trabalhar em respeito à população. Mas já chegou a um ponto que há pessoas que nem dinheiro de passagem tem para vir nem para comer – lamentou Edmar Santos.
Com cartazes e narizes de palhaço, os funcionários gritavam frases como “Pezão caloteiro, cadê o meu dinheiro”. Eles empunhavam cartazes com dizeres como “Queremos condições dignas de trabalho”, “Verás que um servidor não foge à luta” e “Como trabalhar não tem o que comer?”.
Os manifestantes estão ocupando o Boulevard Vinte e Oito de Setembro para protestar. De forma pacífica, eles ocupam a pista quando o sinal está fechado para os motoristas e a liberem quando ele é aberto. Muitos motoristas passam buzinando no sinal de apoio.
A direção do hospital já havia reduzido número de atendimentos para 200 leitos, 100.000 atendimentos ambulatoriais e 500 cirurgias por mês.
– Estou há 44 anos no Pedro Ernesto. Estudei aqui e hoje sou professora de dermatologia. Nunca vi uma situação semelhante. Os governantes não sabem que, no fim da linha, falta remédio e uma pessoa morre. A corrupção é uma matadora em série, uma serial killer. Onde está o dinheiro da corrupção, que poderia estar pagando os profissionais? – indagou Nuna Azulai, de 68 anos.
Com deficiência de plaquetas no sangue, que a obriga a ficar acamada o tempo todo e a se submeter a diversas cirurgias, Eliana Ponciano Justino de Sousa, de 37 anos, teme a redução do número de atendimentos. Ela já fez 45 cirurgias e pode precisar de mais uma.
– Aqui temos bons médicos, mas faltam recursos. Eles fazem o que podem. Minha preocupação é com essa crise. Como é que eu vou fazer? Vou morrer, é claro – disse, amedrontada, Eliana que mora em Japeri e vem de ambulância ao hospital. Ela estava numa maca na sala de espera para atendimentos.
Na manhã desta segunda-feira, os reflexos da redução no atendimento ainda não foram sentidos pelos pacientes. Todos os que procuraram o ambulatório e a internação foram atendidos. O problema pode começar a ser sentido na parte da tarde.
ANÚNCIO DE REDUÇÃO EM CARTA
A redução no atendimento foi anunciada em uma carta direcionada aos médicos. No comunicado, a diretoria do hospital disse que “sempre esteve atenta aos fatos que vem ocorrendo no nosso estado” e ressaltou que a medida, além de afetar pacientes, trará grave prejuízo aos residentes e alunos da universidade.
A justificativa para o contingenciamento é a falta de pagamento de professores, servidores, residentes e bolsistas que estão com dois meses de atraso nos salários e bolsas: “fato que se repete desde novembro de 2016”. E completa: “o atraso nos pagamentos impõe a todos um drama pessoal e familiar, caracterizado por endividamento financeiro, adoecimento psicológico e físico, além de impossibilidade financeira até de se locomover ao trabalho”.