fonte: Extra

Macas coladas umas às outras. O que deveria ser a área de circulação transformou-se num amontoado de pacientes. O ar abafado carrega odores de urina, suor e desinfetante. A sala amarela feminina na emergência do Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, parece um cenário de guerra. Ao lado, na sala masculina, mulheres estão internadas ao lado de homens, gerando um enorme desconforto a cada vez que um paciente recebe higiene íntima. Faltam espaço, profissionais de saúde em número adequado e, principalmente, dignidade.

Com 106 leitos de enfermaria (há ainda 96 de maternidade), o Rocha Faria costuma ter, em média, 90 pacientes internados na sua emergência, cuja capacidade oficial é de 30 leitos. Nesta quinta-feira, eram 74 pacientes no total. O enorme fluxo de doentes que chegam acaba não sendo absorvido pelo hospital. A saída seria a transferências desses pacientes por meio das centrais municipais e estaduais de regulação, mas os sistemas funcionam precariamente.

De acordo com a Secretaria municipal de Saúde (SMS), que concedeu a gestão da unidade para a organização social Iabas em agosto do ano passado, o “prolongamento da crise na rede estadual (as duas UPAs existentes em Campo Grande são estaduais) e a baixa oferta de leitos de retaguarda na rede federal” obriga o Rocha Faria a funcionar acima da capacidade e das condições ideais, para que os pacientes não fiquem sem atendimento. Além disso, em janeiro de 2016, quando a unidade passou da esfera estadual para a municipal, cerca de cem leitos foram fechados, segundo a SMS, em função de “readequações físicas para ajustar a unidade às normas técnicas”.

Bebê aguarda transferência desde 11 de maio

Na última terça-feira, um bebê internado na UTI neonatal da unidade aguardava desde 11 de maio uma transferência para realizar uma gastrostomia e ter uma sonda colocada no estômago para se alimentar. Nesse mesmo dia, 28 pacientes estavam internados na emergência por problemas ortopédicos. Nas enfermarias, quatro leitos estavam ocupados por idosos que aguardavam cirurgia para colocação de prótese de quadril. Um deles espera há um mês. Como o Rocha Faria não realiza esse tipo de procedimento, todos dependem das centrais de regulação para serem transferidos.

Apesar de seis hospitais municipais realizarem o procedimento, a SMS respondeu que “colocação de prótese total de quadril é um procedimento cirúrgico ortopédico de alta complexidade, cuja referência é o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into)”. Em nota, esclareceu que “todos os pacientes que necessitam desses procedimentos são inseridos no Sistema Estadual de Regulação e dependem da liberação de vaga do Into”. Mas admitiu que, “em casos extremos, alguns hospitais da rede municipal podem excepcionalmente adquirir a prótese específica, que não faz parte de sua carteira de serviços”.

A taxa média de ocupação dos leitos de ortopedia nos hospitais da rede municipal é de 116%, de acordo com a SMS. “A do Hospital Rocha Faria está em 126%. Mesmo hospitais de retaguarda e baixa complexidade da rede municipal têm taxa de ocupação de leitos ortopédicos elevada. O Hospital Municipal Barata Ribeiro, por exemplo, tem taxa de ocupação de 93,7%, lembrando que se trata de uma unidade de baixa complexidade e risco, não atendendo pacientes de maior gravidade”, informou o texto.

Sobre a superlotação da emergência, a Secretaria municipal de Saúde afirmou que seus hospitais não recusam pacientes graves que precisem de atendimento de emergência e, quando necessário, de internação. Mas ressaltou que “o SUS funciona em rede, da qual fazem parte também unidades sob gestão federal e estadual”.