fonte: O Globo
por Francisco Balestrin – presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados
O Brasil precisa parar de tratar inauguração de hospital ou anúncio de projetos miraculosos como a única política pública de saúde e começar a reconhecer que esta é uma responsabilidade transversal de todas as partes do governo e da sociedade. E não é só o atendimento médico-hospitalar que é saúde. Em muitos casos, o fato de o paciente ser atendido em um hospital indica, antes, um fracasso da política de atenção. O ideal não é ter leitos suficientes para atender a todos os pacientes com dengue, por exemplo. O ideal é ter ações de prevenção para que as pessoas não contraiam a doença em primeiro lugar.
Mas as ações precisam ir além do escopo estrito de atuação do Ministério da Saúde. Nas escolas, precisamos ensinar os princípios básicos de como manter uma vida saudável, lidando com temas fundamentais, a saber, alimentação, higiene, riscos das drogas, saúde sexual etc. No trânsito, que mata quase 40 mil pessoas por ano, precisamos de educação, mas também de manutenção adequada de vias públicas, sinalização e fiscalização de infrações.
Nem só de fora, porém, vêm os riscos à saúde dos cidadãos. Mais de 12 mil brasileiros tiram a própria vida todos os anos. Precisamos de programas adequados de saúde mental, mas também de fomentar um senso de comunidade, família e perspectivas positivas de vida — especialmente para os jovens, faixa etária na qual o suicídio mais cresce no país.
Para além disso, há todas as questões estruturais, como acesso a água e a saneamento — apenas metade da população brasileira mora em residências com coleta de esgoto e apenas 43% dos esgotos passam por tratamento. Há, ainda, questões ambientais, como a limpeza das águas e do ar, e o acesso aos espaços verdes e a áreas para praticar exercícios, que afetam diretamente a saúde dos indivíduos.
Mesmo se focarmos exclusivamente na recuperação da saúde e reabilitação de pacientes, precisamos ir além das estruturas físicas. A qualidade da atenção depende da capacidade de formar recursos humanos de forma adequada (educação), dos recursos que esses profissionais têm para trabalhar (ciência e tecnologia) e, fundamentalmente, da organização geral deste sistema (gestão).
Hoje, muito se fala do custo da saúde. De um lado, criticam-se os cortes nos orçamentos públicos, de outro, insistese na disparada do chamado custo médico-hospitalar. Em ambos os casos, ocorre a repetição melancólica da culpabilidade alheia. Parece que os envolvidos não têm nada com isso e que a solução será obtida num passe de mágica, como se dinheiro à vontade ou reajustes liberados tivessem o condão de resolver os profundos problemas de gestão do governo e das operadoras de planos de saúde.
Os problemas, incluindo seu custo, portanto, não serão resolvidos de forma espetaculosa, com ações midiáticas. Eles requerem o trabalho árduo, dedicado e silencioso de milhões de profissionais que, passo a passo, construirão uma saúde melhor para os cidadãos.