fonte: O Globo

A Rede D’Or São Luiz, a maior no segmento hospitalar no Brasil, está interessada em comprar a Rede Ímpar, que tinha como sócio Edson Bueno, fundador da Amil que morreu em fevereiro, afirma uma fonte próxima à empresa. A Ímpar — que inclui seis hospitais em São Paulo, Brasília e Rio, incluindo o São Lucas, em Copacabana, e o Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) — desperta o interesse de outros grupos e fundos de investimento, segundo fontes de mercado. De acordo com pessoas próximas à negociação, o UnitedHealth Group Brasil, braço da empresa americana controladora da Amil desde 2012, estaria na frente na disputa pelos ativos.

— A Rede D’Or já manifestou interesse. Mas não houve, até aqui, apresentação de proposta. A questão é que a Ímpar não abriu um processo competitivo por seus ativos. E, por contrato, o UnitedHealth tem direito de preferência para comprar outros ativos da Amil — explicou uma fonte que acompanha as conversas.

A Ímpar reúne hospitais nas cidades que compõem o eixo mais lucrativo do setor privado, de acordo com especialistas. No mês passado, a aquisição da Amil pelo UnitedHealth completou cinco anos. Por contrato, a estrangeira pode agora adquirir os 10% restantes da operadora de saúde, que ficaram nas mãos da família Bueno. A americana, contudo, quer levar também os demais hospitais do criador da Amil, como antecipou o colunista do GLOBO, Lauro Jardim.

— Um bloco de hospitais se valoriza conforme o grau de integração das unidades, da qualidade da infraestrutura e dos serviços médicos. É diferente de comprar um hospital individualmente e ter ainda o gasto para integrar essa unidade a uma outra rede — explica um gestor que prefere não se identificar.

A rede da Ímpar é a terceira maior do país, atrás da Rede D’Or, que tem 37 hospitais, e do UnitedHealth Brasil, que soma 35 hospitais entre 14 da Amil e 21 do Americas Serviços Médicos. Se o grupo americano levar a Ímpar, passará a ser o líder do segmento. De outro lado, caso um fundo arremate os hospitais, ele se tornaria o terceiro grupo de força no mercado.

— O negócio da Ímpar é valioso por já ter uma rede consolidada, com sinergias estabelecidas. Se vendido, deveria ser negociado por um montante entre R$ 7,5 bilhões e R$ 8 bilhões. Essas cifras podem vir de fundos de investimento ou de fundos soberanos — diz um especialista de mercado de hospitais que prefere não se identificar.

Possível impacto no custo das operadoras

Esse patamar de preço estaria acima do valor visto como “justo” pela Rede D’Or, diz uma fonte próxima ao grupo. O que não significa necessariamente falta de fôlego para negociação.

— A consolidação é importante no setor de saúde, que ainda tem muito potencial para crescer, despertando o apetite de diversos fundos do Brasil e do exterior. Há recursos disponíveis para essas transações. E não se pode esquecer que a Rede D’Or tem sócios como o Fundo Soberano de Cingapura (GIC, na sigla em inglês) — pontuou Adeodato Volpi Netto, sócio da Eleven Financial.

Uma fonte da área de hospitais explica que a aquisição da Ímpar poderia ter efeitos também para as operadoras de saúde:

— A compra da Ímpar pela Rede D’Or pode trazer impacto nos custos das operadoras de saúde porque é um grupo com uma política de preços mais agressiva. Com mais hospitais, teria ainda mais controle dessa precificação. O UnitedHealth usaria a rede para reduzir custos internos. Ao abrir os hospitais Amil para o mercado, elevou os custos para a própria rede.

Vencer a disputa pela Ímpar no preço, ainda que existam recursos disponíveis, será difícil.

— Isso pode acontecer, mas apenas se houver uma oferta em valor muito superior à oferecida pelo UnitedHealth. A empresa americana não tem problemas de caixa e, para ela, vale investir nessa expansão, com foco nos ganhos no longo prazo. Sem esquecer da relação comercial já estabelecida entre os dois grupos — diz fonte próxima à Amil.

Procurado, o UnitedHealth Group Brasil informou que “não comenta especulações ou rumores de mercado”. A Rede D’Or disse que não comenta o assunto.