fonte: O Globo

O plano brasileiro de combate à resistência a antibióticos tem previsão de ficar pronto em 2018, segundo informações do Ministério da Saúde. O tema é uma preocupação global especialmente desde que foi divulgado, em maio do ano passado, um relatório do governo britânico que mostra que, se nada for feito até 2050, a resistência aos antibióticos matará mais do que o câncer: dez milhões de pessoas devem morrer a cada ano, isto é, uma pessoa em cada três segundos.

Médicos e pesquisadores de todo o mundo entenderam que existe a necessidade de ações urgentes para, nas palavras do economista autor do então estudo, Jim O’Neill , “evitar que a medicina preventiva volte à Idade Média”, quando simplesmente não existiam antibióticos. Com cada vez mais pessoas desenvolvendo resistência a esse tipo de medicamento — em geral, por causa do seu uso em excesso —, corre-se o risco de chegar uma hora em que os antibióticos existentes terão efeito sobre pouquíssimas pessoas. Assim, doenças como pnemonia e tuberculose, hoje eficientemente combatidas com antibióticos, poderiam voltar a ser letais.

Para evitar que esse cenário aconteça, a Organização Mundial da Saúde (OMS) produziu um plano de combate com cinco objetivos. E tem estimulado todos os países membros a elaborarem planos nacionais.

De acordo com um levantamento feito pela OMS em junho de 2016, dos 191 países membros, 25 tinham planos concluídos e 34 estavam fase de elaboração, incluindo o Brasil. Uma nova pesquisa feita este ano mostra que, até junho, 67 estavam com seu plano concluído, e 62 estavam em desenvolvimento. Na América do Sul, os países que já têm um plano de combate estruturado são Colômbia, Chile e Peru.

Eduardo Hage, especialista do Instituto Sul Americano de Governo em Saúde (ISAGS), da Unasul, explica que o segundo objetivo é aumentar o conhecimento dos próprios serviços de saúde sobre o problema. Isso é essencial para alcançar o terceiro objetivo: reduzir a incidência de casos. Já a quarta meta é otimizar o uso de antibióticos, e a quinta é preparar argumentos econômicos voltados para um investimento sustentável e aumentar os investimentos em novos medicamentos, diagnósticos e vacinas. Esses cinco objetivos foram traçados pelo plano da OMS, e o documento brasileiro está alinhado com essas metas.

— Uma das maiores deficiências, em todos os países, é que não existem dados populacionais sobre a resistência antimicrobiana em humanos e em animais. Conhece-se pouco sobre isso em escala global — afirma Eduardo Hage, que até fevereiro deste ano estava à frente do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Segundo ele, é preciso criar sistemas de vigilância epidemiológica que consigam mensurar quantas pessoas desenvolvem resistência a antibióticos.

— Nós sabemos quantas pessoas desenvolvem infecção hospitalar. Mas não sabemos quantas pessoas em hospitais desenvolvem resistência antimicrobiana. E, se não sabemos qual é essa população, não saberemos se nossas ações estão reduzindo esses casos ou não — destaca ele. — Aqui no Brasil, a Anvisa tem, por exemplo, dados sobre infecção. Mas não se sabe qual percentual desenvolveu resistência. É preciso implantar esses sistemas, para entender qual é a extensão do problema na população. Esse é um desafio do mundo todo, é uma realidade em vários países.

Ele ressalta que o gasto de se criar um sistema de vigilância desse tipo seria coberto em pouco tempo. Isso porque o custo de tratar pessoas resistentes a medicamentos é muito alto, já que elas têm que tomar antibióticos ainda mais caros para se recuperarem.

— É importante prevenir novos casos, e só se previne conhecendo a extensão do problema. A internação de pessoas que desenvolveram resistência tem um custo alto — diz Hage.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que, “por ser um plano com uma alta transversalidade em muitos tópicos – como a elaboração da coordenação, execução e financiamento das ações – será assinado conjuntamente por todos os órgãos envolvidos. O Plano de Ação Nacional para a Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos (PAN-BR) faz parte do esforço integrado a Anvisa, Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e ministérios da Agricultura; Ciência e Tecnologia; Meio Ambiente e Cidades. As primeiras reuniões envolvendo órgãos externos ao Ministério da Saúde tiveram início em 2016”.