fonte: CREMESP
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) exprime sua indignação com as declarações do médico Gonzalo Vecina Neto, entrevistado no programa Alexandre Garcia, da Globonews, no dia 29 de agosto de 2018. Esta Casa, que sempre defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS) e almeja uma ampla reforma do Estado brasileiro na gestão da Saúde, vê com apreensão as declarações de Vecina, que construiu seu discurso jogando os problemas do sucateamento do Sistema no médico, que também é vítima do descaso do Poder Público.
Vecina, que foi secretário Municipal de Saúde de São Paulo, secretário Nacional da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tenta atribuir ao médico os problemas governamentais dos quais conhece muito bem, teve oportunidade de resolver, mas pouco contribuiu para a solução.
Ele sabe que o médico atua em jornadas extenuantes e tem seu exercício prejudicado pelas más condições de trabalho oferecidas no SUS, situação essa que, por vezes, chega a ser humilhante, tal a deficiência de insumos e equipamentos. E, ao contrário do que mencionou Vecina, um médico que trabalha na periferia não ganha “salário exorbitante” ou “R$ 20 mil no SUS”. Pelas suas 7.800 horas de graduação e mais 5.000 horas de Residência Médica, recebe uma média mensal de R$ 8.500, na Prefeitura Municipal de São Paulo, ou de R$ 7.600, no Governo do Estado de São Paulo.
Quando defende a presença do Terceiro Setor como solução para uma gestão eficiente do SUS, esquece dos problemas e desvios ocasionados por algumas Organizações Sociais de Saúde (OSS), alvos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), inclusive em São Paulo. Ao respaldar em sua fala o Programa Mais Médicos, que pretendia levar profissionais para regiões distantes, ignora a Demografia Médica no Brasil 2018, estudo do Cremesp e CFM, realizado pela USP, que demonstra a concentração de médicos nas grandes cidades do País. As 27 capitais da federação reúnem 23,8% da população e 55,1% dos médicos, ou seja, mais da metade dos registros de médicos em atividade continua se concentrando nos grandes centros urbanos enquanto a escassez se mantém nos interiores e nos locais mais longínquos.
E, por fim, como professor, Vecina deveria repensar sua posição sobre a abertura de novas escolas médicas, muitas com mensalidades que ultrapassam R$ 10 mil e com precárias condições de ensino. A má qualidade dos cursos influencia diretamente o atendimento à população e causa inúmeras distorções, que tanto prejudicam a população, especialmente as mais carentes e dependentes do SUS. E é pela crença incontestável em um Sistema Universal e equânime de Saúde que o Cremesp vem a público manifestar seu repúdio em relação às declarações prestadas, que causam extremo desconforto em todos aqueles que lutam diariamente pelo exercício digno da atividade médica.
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
São Paulo, 31 de agosto de 2018