fonte: Jornal da Cidade de Bauru/SP
Se a tecnologia ajuda – e muito – os médicos, uma premissa é certa: também é o conhecimento difundido a partir da tecnologia, no caso a Internet, o responsável por alterar a forma como o paciente chega ao consultório. Atualmente, os profissionais precisam enfrentar o ”fake científico’, informações infundadas que os pacientes encontram de fontes desconhecidas na web e adotam como verdades absolutas. Em média, mais da metade das consultas é consumida na desconstrução dessas ideias.
Quem atesta essa realidade é o presidente da Regional Bauru da Associação Paulista de Medicina (APM), Marcos Cabello dos Santos. “Muitas vezes, durante a consulta, o profissional se depara com alguém que chega dizendo: ‘quero fazer um exame para detectar todos os níveis de minerais do meu corpo””, exemplifica.
E o exemplo tem pertinência. Isso porque, graças ao popular ”Dr. Google’, muito paciente acha que, por ler este ou aquele artigo, sabe qual a doença que tem. “Na verdade, já há estudos comprovando o uso de 50% do tempo de uma consulta somente para explicar que nem tudo o que a pessoa leu é confiável. Como vocês, jornalistas, sofrem com as ‘fake news’ (notícias falsas), nós sofremos com os ‘fake científicos””.
”MEDICINA É COMPLEXA”
Por ”fake científicos’, Cabello define os artigos escritos por pessoas que não têm o conhecimento exato para dominar o assunto. Ele relata que os médicos passam muito tempo desconstruindo informações inverídicas, quando poderiam estar construindo relações menos superficiais entre médico e o paciente. “A medicina é absolutamente complexa, com grande quantidade de variáveis”, complementa.
Diante dessa outra premissa, Marcos Cabello ressalta o que ele considera o grande mérito da medicina. “É a conjunção entre o profissional querendo ajudar e quem precisa de ajuda. Esse é o grande milagre”, diz, para lembrar que, hoje, o maior desafio do profissional é se tornar acessível a todos. “O que os Conselhos de Medicina e Associações, enfim, nós da APM, apregoamos, é a humanização e a universalização do atendimento. Qual é o nosso maior desafio? Tornar a medicina acessível a todas as pessoas, independente de classe social”.
VALORIZAÇÃO
“Somos uma das únicas profissões, se não a única, onde o profissional precisa investir muito mais do seu tempo, quase o dobro, depois de formado para poder exercer o ofício. E queremos isso, queremos qualificação mesmo, queremos boas escolas. É a única profissão que demanda mais tempo de estudo até depois de formado. Você precisa estudar outro tanto para ser um bom profissional. Mas, se precisamos de qualificação e valorização, que esse conhecimento seja difundido de forma mais humana, exercido por profissionais éticos. O mau profissional vai causar muito mais prejuízo do que a falta do profissional”, lembra.
E o médico ainda vai além: “O mais importante é o ser humano que vem na frente. Então, não importa formar mais técnicos, e sim bons médicos, desenvolver o lado mais humanizado”, finaliza Marcos Cabello.