fonte: O Globo
Logo após o diagnóstico de câncer, o paciente precisa mudar seus hábitos e rotinas. Mas mesmo depois do tratamento, mazelas físicas, econômicas e sociais podem existir. É por isso que essas pessoas são chamadas de sobreviventes, desde que a doença é anunciada até o último dia de suas vidas — que pode durar décadas. Baseado neste grupo, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou o estudo “Compreendendo a Sobrevivência ao Câncer na América Latina: O caso do Brasil”, que aponta a necessidade de atenção àqueles que já tiveram a doença.
— O Brasil tem feito um esforço para o diagnóstico e o tratamento. No entanto, um número muito grande de pessoas pode ter sequelas emocionais, físicas ou financeiras. Não existe uma atenção específica para isso — afirma a médica Liz Almeida, gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca e coordenadora executiva do estudo.
O termo “sobrevivência ao câncer” foi introduzido há mais de três décadas nos Estados Unidos pelo médico Fitzhugh Mullan e trata não somente dos pacientes, mas também de acompanhantes e familiares. Para a pesquisa brasileira, foram entrevistados 47 indivíduos diagnosticados há pelo menos 12 meses com câncer de próstata, mama, colo do útero e leucemia linfoblástica aguda (LLA), além de 12 familiares/cuidadores, em hospitais das redes pública e privada no Rio de Janeiro e em Fortaleza, em 2014 e 2015.
Uma das dificuldades apontadas pelo grupo está no acesso a informações e na ausência de um modelo de cuidados para quem teve câncer. Logo após o tratamento hospitalar, o paciente volta à rede de saúde original, que não possui dados sobre o período de tratamento. Isso impede o monitoramento dos sobreviventes.
— Temos que trabalhar em duas frentes de informação. A primeira é do paciente, que precisa conhecer desde questões médicas até aspectos legais. A segunda é do médico que recebe o paciente depois de ele ficar no hospital. Essa integração é necessária — avalia Rildo Pereira da Silva, pesquisador principal do estudo e membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos Qualitativos (NupeQuali) do Inca.
Impacto no trabalho
Os especialistas ressaltam que essa perspectiva não diminui os esforços para o combate ao câncer, mas implica novos dilemas a serem solucionados. Os sobreviventes também citam a dificuldade que as interrupções no trabalho geraram para si e sua família.
— Familiares e acompanhantes sofrem os impactos de todo o processo emocional e socioeconômico. Uma mãe que acompanha o filho, por exemplo, passa a ter uma série de limitações em sua vida — aponta Antônio Tadeu Cheriff, pesquisador do estudo e responsável pelo NupeQuali.
O instituto estima a ocorrência, em 2019, de 68.220 novos casos de câncer de próstata, 59.700 de mama, 16.370 de colo do útero e 10.800 de leucemias. A média sobrevida estimada para estas doenças para o período de 2010-2014 foi de 92% para o câncer de próstata, 75% para o de mama, 60% para o de colo do útero e 66% para LLA na infância.