fonte: O Globo

Aexpansão da rede de ensino federal está na raiz da atual situação de déficit das universidades, diz o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pesquisador do Instituto de Estudo de Políticas Econômicas Casa das Garças Simon Schwartzman. Para o sociólogo, a política de cortes do governo federal, com restrições orçamentárias feitas de forma generalizada, não resolve o problema, mas o agrava.

Houve uma grande expansão na rede federal pública de educação iniciada na década passada. Como isso pode ter impactado na saúde financeira das universidades? A expansão foi feita num momento em que se acreditava que a economia ia continuar crescendo muito, mas quando já havia sinais de que isso não aconteceria. Houve uma tentativa de se expandir de qualquer maneira o sistema. Ele cresceu muito, e estamos pagando o preço. Talvez tenha sido um equívoco a criação dos Institutos Federais, de transformar escolas técnicas de nível médio em universidades. Isso aumentou muito a despesa. Acho que tem espaço para uma política mais racional e de longo prazo e para se usar melhor os recursos. Mas não se resolve esse problema fechando as universidades, impedindo que ela funcione no dia a dia, porque aí só vai agravar o problema.

Quais podem ser os impactos desse contingenciamento no ensino superior? Esses cortes afetam a verba de custeio das universidades, não pegam os gastos fixos e a parte de pessoal. As universidades já estão apertadas há algum tempo. Os gastos fixos com pessoal correspondem a 90% dos custos, o governo está cortando um terço dos outros 10%, que é o que elas precisam para pagar conta de luz, telefone, entre outras. Isso pode sim inviabilizar o funcionamento de algumas instituições. Se mantiverem, minimamente, as luzes acesas, vão ter que fechar.

Qual sua opinião sobre a maneira como foram feitos os cortes?

Claro que o país está em uma situação de aperto financeiro, mas esses cortes gerais, sem olhar a situação de cada caso, são muito preocupantes. Pode ser que em algumas instituições haja mais gordura do que em outras. Não é uma boa política cortar desse jeito. Se tiver que cortar, isso tem que ser feito com critério, não pode ser uma regra geral. Cortes generalizados nunca são boas políticas.

Na campanha, Jair Bolsonaro disse que priorizaria a educação. O setor está sendo tratado como prioridade?

O governo está cortando em muitas áreas, mas há notícias de que está fazendo uma política de concessões, perdoando dívidas da área rural, por exemplo. Ou seja, há outras áreas em que o governo está muito mais leniente, seja não cortando gastos ou permitindo que os impostos não sejam pagos. É uma questão de onde está a prioridade do governo.