Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2019
Em nome de seus associados, a CIPERJ vem a público comunicar a falta de insumos básicos que afeta neste momento vários hospitais da rede SUS no Rio de Janeiro. Tais problemas variam entre o desabastecimento agudo de material cirúrgico essencial (escovas de antissepsia, canetas de eletrocautério, etc), desabastecimento agudo e crônico de materiais de consumo específico de uso em cirurgia pediátrica (cateteres venosos profundos, fios de sutura apropriados para cirurgia em crianças pequenas, etc) e desabastecimento crônico de materiais de uso permanente, em especial material apropriado para endoscopia urológica, cirurgia videolaparoscópica pediátrica e ultrasonógrafos para uso em tempo real em atos de inserção de cateteres venosos profundos (estes, por exemplo, constituem o estado da arte e possibilitam maior segurança e substituição de métodos de dissecção venosa por métodos de punção venosa com preservação do vaso afetado). Problemas têm sido verificados e denunciados à CIPERJ, em vários hospitais da rede, em graus e especificidades variáveis, afetando instituições federais, estaduais e municipais, seja com gerência pública direta ou por operadoras terceirizadas (OS). Há uma nítida piora dos problemas envolvendo materiais de consumo a partir de novembro de 2019.
Gostaríamos de destacar e tornar público que estas restrições têm obrigado várias instituições a adiar e cancelar procedimentos cirúrgicos ou, em situações de emergência extrema, a recorrer a manobras técnicas de segunda linha para resolver problemas clínicos.
Algumas implicações destes problemas são óbvias, como por exemplo, sobre as filas de espera. Outras são menos evidentes, e implicam, por exemplo, enormes coeficientes de estresse sobre profissionais e pacientes. Os níveis de esgotamento profissional (síndrome de burn-out) entre médicos são enormes neste momento, os níveis de suicídio entre profissionais, segundo algumas fontes, quintuplicaram nos últimos anos e as notícias de agressões contra profissionais de saúde proliferam largamente, inclusive na imprensa profissional. As taxas de complicações procedurais podem aumentar significativamente mesmo com a execução e indicação perfeitas de procedimentos, seja pelo uso emergencial necessário de materiais ou métodos de segunda linha ou pela espera significativamente aumentada para cirurgias.
A CIPERJ considera essencial que estes problemas sejam resolvidos e que a população, incluídos aqui os agentes de controle público, estejam cientes. É necessário registrar que os profissionais médicos e os cirurgiões pediátricos não são culpados, omissos ou descomprometidos. É impossível fazer cirurgia usando apenas a voz e a boa vontade.
Associação de Cirurgia Pediátrica do Rio de Janeiro – CIPERJ